terça-feira, junho 30, 2009

Retrato do Artista Enquanto Jovem - 106ª parte

Para os americanos, o sexo é uma obsessão. Para nós, europeus, é um facto.
Quem é, quem é?

Pé de Moça

A mulher é um livro. O pé é o índice do livro.
Machado de Assis
Atenção, meu povo! A partir de hoje o Eduardo do Varal de Idéias, o Jorge do Expresso da Linha e aqui a vossa humilde anfitriã, vamos passar a fazer uns ménage à trois. Calma, muita calma nada de excitações precipitadas... não é dada disso que essas vossas cabecinhas já estão a pensar (porcalhões, só querem é palhaçada...). Foi decidido, de repente - e eu, com a devida vénia, aceitei tão amável convite - abrir um blogue em conjunto que se chama Pé de Moça e será unica e exclusivamente dedicado, e como o nome indica, a pés de moça, mulher, rapariga, gaja, chamem-lhe o que quiserem, desde que sejam femininos. As vossas sugestões serão bem vindas, sejam poemas, textos, fotos, pequenos vídeos, observações, uma história qualquer que viveram, viram ou ouviram, mas o tema será sempre o delicado pézinho duma menina. Só nós os três é que podemos colocar os posts, portanto, mãos à obra e utilizem os nossos mails - qualquer um dos três - e vamos continuar a animar a blogosfera da nossa pequena comunidade luso-brasileira. Eu prometo que um dia destes ponho lá uma foto dos meus lindos calcantes, mas não me responsabilizo por faltas de ar, ataques cardíacos, apoplexias, síncopes e demais manifestações de natureza física. Ficam avisados, tá? Já agora, ontem vi umas sandálias lindas numa dessas sapatarias da moda e fiquei logo cheia de nervos, estou aqui pobre que nem um cão... ai, que tristeza... rawf! rawf!...

segunda-feira, junho 29, 2009

Smoke

Continuando com os nossos inacreditáveis anúncios vintage, mesmo correndo o risco de despoletar a ira dos fundamentalistas anti-tabágicos... ... o Ronald "Voice of the Turtle" Reagan...
...um médico a aconselhar Luckies porque são menos irritantes,
um conselho a seguir, claro, pois se 20.679 médicos recomendam...
...seja moderno, mude para o moderno LM... menos alcatrão,
mas muito mais saboroso...
... e não há cigarro que satisfaça tanto como o Chesterfield...
... e o Oscar vai para:
Fume tranquila.
Que coisa impensável hoje em dia! As empresas tabaqueiras "prometiam" muita coisa, mas este anúncio vai para além dos limites do razoável, mesmo para os publicitários daquela época - anos 50. Os cigarros eram apresentados como um alívio para a garganta ou um símbolo de elegância e distinção. Utilizar crianças para sugerir que um inocente cigarro podia curar praticamente tudo, incluindo as neuroses das mães e donas de casa, foi um dos golpes mais baixos da indústria tabaqueira. Abuso infantil? Ora, mamã, não ralhes comigo! Vem cá, senta-te, fuma um cigarrinho e acalma-te, sim?...

Retrato do Artista Enquanto Jovem - 105ª parte

A arte é a minha vida e a minha vida é arte.
Quem é, quem é?

Tudo Boas Raparigas - Martha Beck

Martha Beck tinha duas grandes ambições na vida: a primeira era ser enfermeira e a segunda era apaixonar-se e casar-se com um homem decente. Infelizmente, estes dois objectivos entravam em rota de colisão directa com as suas proporções demasiado avantajadas: ela pesava bem mais de cem quilos. Depois de conseguir o diploma de enfermeira na sua Florida natal, o único emprego que conseguiu arranjar foi numa casa mortuária. Dezoito meses depois de lavar e alindar cadáveres, Martha resolveu acertar agulhas a caminho da Califórnia. Tinha ouvido dizer que havia por lá falta de enfermeiras qualificadas e, uma vez instalada, tratou logo de montar uma teia para caçar um marido. Conseguiu-o e a felicidade do parzinho era tanta que o homem, numa desesperada tentativa para resolver os seus problemas, atirou-se dum cais, tendo sido, que maçada, resgatado das águas. Martha não gostou lá assim muito que ele não quisesse passar o resto da vida com ela e, passados uns tempos, o homem desapareceu para sempre...
De regresso à Florida, ela inscreveu-se num daqueles clubes tipo “corações solitários” e não tardou muito até conhecer um sujeito decadente chamado Raymond Fernandez, um sedutor que já tinha conhecido melhores dias e cujo único rendimento era depenar o mais possível viúvas e solteironas solitárias que ele ia conhecendo através deste tipo de agências casamenteiras. É claro que, depois de ter despojado as senhoras dos seus bens, desaparecia logo a seguir sem deixar rasto. Cada um deles considerou que tinha encontrado a sua “alma gémea” e resolveram montar um esquema muito lucrativo e que ainda durou alguns anos: apresentavam-se como irmão e irmã e, enquanto ele casava com a viúva, ela tratava de transferir os bens da senhora para o nome dela (ou dele). A coisa lá ia funcionando razoavelmente bem, até ao dia em que uma das tais viúvas, no estado de Nova Iorque, foi morta à cacetada e o par resolveu fugir para o Michigan onde, pouco tempo depois, Mrs. Delphine Downing e a sua filha, se tornaram nas próximas vítimas. Um dia, a senhora descobriu que afinal o seu futuro marido era careca, (parece que a senhora gostava mais deles com cabelo...) gerou-se ali uma discussão e, ao expulsá-los de sua casa e perante a ameaça de os desmascarar e fazer queixa à polícia, o casal-maravilha resolveu despachar a pobre viúva também à mocada e é claro que a sua filha teve destino idêntico. Os ciúmes de Martha eram de tal forma terríveis que ela não suportava que as senhoras continuassem vivas depois de Ray ter dormido com elas. Foram rapidamente apanhados e as autoridades do estado do Michigan resolveram extraditá-los para o estado de Nova Iorque, onde a pena de morte ainda estava em vigor (esta é sinistra). Confessaram a autoria de 12 homicídios. Foram executados, lado a lado na cadeira eléctrica no dia 8 de Março de 1951, na prisão de Sing Sing, Nova Iorque. Pormenor macabro: Martha era gorda demais e não cabia na cadeira; teve que ficar sentada nos braços... da cadeira. Ai, que horror! Ficaram conhecidos pelos “Lonely Hearts Killers” e em 2006 saíu um filme sobre esta história com Salma Hayek, Jared Leto e John Travolta.

domingo, junho 28, 2009

Retrato do Artista Enquanto Jovem - 104ª parte

Faço tudo por uma boa gargalhada. Excepto ouvir os Smiths.
Quem é, quem é?

sexta-feira, junho 26, 2009

RadioKaput

Pan Sorbe & Jorg convidam para mais uma sessão RadioKaput power pop clash party @ LEFT, amanhã, sábado a partir das onze com dedicatória a Michael Jackson aka King of Pop!!! [RIP]. Bem-vindas (os) Beijos e Abraços!!!

Para quem mora em Lisboa e/ou arredores e quiser ouvir boa música, abanar o capacete e beber umas jolas bem fresquinhas, o caminho é este. Ali, em Santos. Agora no Verão, costuma ter esplanada. Costuma-se estar lá bem.

King of Pop

(...) Já está bem documentada a forma rígida, e não poucas vezes violenta, como o pai Joseph Jackson (ele próprio um músico amador em tempos idos) tratava os filhos. E não se pense que tal mudou a partir da altura em que ele descobriu que dera origem a uma família de mais que evidentes talentos. O próprio Michael lembrou em tempos, em entrevistas a Oprah Winfrey, duas ocorrências concretas. Uma tinha ver como a forma como o pai geria os ensaios dos filhos: de cinto em punho, pronto a ser usado à mistura com insultos, de cada vez que ocorresse o mínimo erro. Outra dizia respeito a uma ocasião em que o patriarca trepou pela janela do quarto de Michael a meio da noite, com uma máscara assustadora, a urrar e a gritar. Enquanto Joseph defendia esta acção como uma lição para que os filhos percebessem o que poderia acontecer caso deixassem a janela do quarto aberta durante o sono, Michael declarou que, durante anos, teve pesadelos em que se via raptado a partir do seu quarto. Foi até mais longe dizendo que, durante a infância, a mera aparição do pai à sua frente o fazia ficar doente e com vómitos!
E embora sendo uma grande “ajuda”, tudo isto não chega ainda para explicar todas as bizarrias subsequentes. Afinal, quantas etapas de crescimento poderá um miúdo ter queimado quando, aos sete anos, já se juntava aos irmãos na banda e, um ano mais tarde, já andava pelo circuito de clubes nocturnos a abrir, se preciso fosse, para stripers e freak-show sortido? E que na hora de assinar juntamente com os irmãos o contrato discográfico com a Motown, que lhes garantiria toda a fama e fortuna imaginável, tem os relações públicas da editora a fazerem-no dois anos mais novo nas biografias oficiais (ele tinha onze), com o intuito de o tornar mais apelativo à audiência mainstream (leia-se: branca)? E que, aos catorze anos, já estabelecido como estrela da companhia, edita o seu primeiro álbum a solo? E que, sete anos mais tarde, já com 21, declara independência via associação com Quincy Jones, edita um disco chamado Off The Wall, que quase redefine as regras do que um álbum de pop mainstream deve ser? Este é o homem que, aos 24 anos, com Thriller, não só estabelece o recorde do mundo para o disco mais vendido de sempre como, graças a um fenómeno emergente chamado MTV, se torna na primeira verdadeira mega-estrela da era vídeo. Fazer melhor era, provavelmente, impossível.
Mas já se sabe. Como diz o velho adágio, quanto mais alto se sobe, maior é a queda. No caso de Jackson, não era só a altura que constituía problema de maior. Eram também profundos traumas de infância. E, sobretudo, um ciclo de evolução humana bastante adulterada por razão dos imperativos e possibilidades infinitas que um talento precoce desde cedo acarretam. Poder-se-á dizer que Michael Jackson foi vítima da fria, distante e gananciosa exploração tanto próxima como alheia, convenientemente disfarçada sob a capa de uma dádiva divina que o teria destinado (acertadamente, é um facto) à adulação e mimo do mundo inteiro. Também se poderá contrapor que para tudo existem duas faces. E que tal dádiva acabou por ser, à sua maneira, não tanto a maldição, mas o motor que ajudaria a precipitar o mais do que público desastre humano a que todos nós hoje assistimos enquanto voyeurs assumidos. (...)
1979 - Jackson parte o nariz enquanto ensaia uma rotina de dança especialmente complexa, levando à primeira de imensas rinoplastias.
1984 - É vítima de queimaduras graves no escalpe, resultantes de um acidente pirotécnico durante as filmagens de um anúncio para a Pepsi. Pouco tempo depois, realiza a sua terceira rinoplastia.
1985 - Jackson é diagnosticado como tendo vitiligo, uma rara doença que faz a pele perder pigmentação e que torna os portadores demasiado sensíveis à luz do sol. O cantor só o revela oito anos depois.
1986 - As bizarrias espalham-se: clamou-se, em primeiro lugar, que Jackson dormia numa câmara de oxigénio hiperbárica, para retardar o processo de envelhecimento. Jackson compra e faz amizade com um chimpazé de estimação chamado Bubbles.
1993 - Jordan Chandler, de 13 anos, e seu pai Evan, instalam um processo judicial contra Jackson, alegando abuso sexual sobre o menor. O processo foi resolvido no ano seguinte, através de um acordo extra-judicial. A imagem do cantor fica seriamente afectada.
1994 - Casa-se com Lisa Marie Presley, filha de Elvis Presley. O casório é cinicamente visto como uma forma de limpar a imagem de Jackson, severamente afectada após as alegações de abuso de menores. O casal separar-se-ia no final do ano seguinte.
1996 - Jackson casa-se de novo, desta vez com a enfermeira Debbie Rowe. São dela, dois dos seus três filhos, Michael Junior e Paris Katherine. Divorciam-se em 1999.
2000 - Os primeiros rumores sobre dificuldades financeiras começam a vir ao de cima, com a Sony, alegadamente, a tentar comprar os direitos do catálogo do cantor (detidos pelo próprio) sem sucesso.
2002 - Nasce o terceiro filho de Jackson, Prince Michael, fruto de inseminação artificial. Meses mais tarde, acena aos fãs na varanda do seu quarto de hotel, segurando o filho de forma algo negligente.
2003 - Novas acusações de abuso de menores vêm a público. Desta vez a alegada vítima era Gavin Arvizo, que tinha 14 anos à data da ocorrência. Dois anos depois, é considerado inocente de todas as acusações.
2006 - Novos rumores sobre a saúde financeira de Jackson, com o famoso rancho Neverland a ser disputado no mercado, por um valor superior aos 120 milhões de dólares.
2009 - The End.
Fonte: Revista Blitz - Outubro 2008

Dangerous

Roubei esta ilustração lá do Drops Azul Aniss, achei linda, Eduardo não resisti! Gosto mesmo é do ar aflito de Oh, my God! do S. Pedro e dos anjinhos ao ver o Wacko Jacko a aproximar-se. E como disse - e muito bem - o Al Kantara lá no Expresso da Linha "tanto talento desperdiçado em excentricidades idiotas". Também é verdade. O Jorge chamou-lhe "tonto". E como cantava o nosso tonto favorito: quando a cabeça não tem juízo, quando te esforças mais do que é preciso, o corpo é que paga. Espero que finalmente o pequeno Michael encontre a paz que tanto procurava.

Sempre que eu olhava para o Michael Jackson, ele fazia-me lembrar aquela personagem do filme "Brazil" do Terry Gilliam, interpretada pela Katherine Hellmond - também da excelente série Soap. Essa personagem, nesse filme, era uma velha excêntrica que passava a vida a fazer operações plásticas, sempre a corrigir qualquer coisa. A dada altura ela morre e, no seu velório, vemos o caixão fechado. Já não me lembro porquê, mas às tantas alguém dá um pontapé no caixão ou ele cai no chão por outra razão qualquer e, com o estrondo, abriu-se todo e sai de lá a escorrer uma massa sanguinolenta, nojenta, que se espalhou por todo o lado: era a outra que se tinha desfeito toda por causa de tanta plástica que tinha feito! É das cenas mais hilariantes do filme. Não sei porquê, mas ultimamente sempre que olhava para este rapaz lembrava-me dessa personagem desse filme. Principalmente quando aqui há tempos surgiu uma notícia em que se dizia que ele tinha o nariz a cair. Por causa das plásticas, claro. Desculpem lá, mas é difícil não fazer associação de idéias. Ah, grande Terry Gilliam, que via para lá das estrelas!

quarta-feira, junho 24, 2009

Café Elektric

No tempo em que se podia fazer publicidade a cigarros...
There's never a rough puff in a Lucky!

Retrato do Artista Enquanto Jovem - 103ª parte

Geralmente estou sempre a fazer qualquer coisa relacionada com a música: a gravar um disco, a começar ou a finalizar a gravação de um disco, a iniciar uma digressão ou entre digressões. Esta é a minha vida. Quem é, quem é?

Absolut Poetry - Festival Silêncio






Sexta-feira, 26 de Junho, 22h30 @ MusicBox (Bilhete: 10€)
Absolut Poetry - Poetry SlamConcurso / Torneio de Poetry Slam com 8 participantes, apresentado por JP Simões e com um júri composto por Ana Padrão, Fernando Alvim, José Luís Peixoto, Rui Zink, Vitor Belanciano e Tiago Bettencourt.
Considerado uma das mais recentes e cosmopolitas tendências da noite das grandes capitais, o Poetry Slam tem alcançado enorme sucesso nos bares de Berlim, Nova Iorque, Paris ou Londres. O conceito é simples: basta escolher um tema, tratá-lo de forma crítica e espirituosa, adicionar algumas rimas e declamá-lo de forma dramática no espaço de três minutos no palco de um clube. Emblema da cultura urbana, este novo movimento dá primazia à palavra e aos poetas e convoca todos aqueles que queiram exprimir e transmitir a sua arte através da palavra dita. O MusicBox acolherá este primeiro concurso de Poetry Slam.

JP Simões Um dos mais talentosos compositores portugueses, JP Simões tocou com os Pop dell’Arte e mais tarde formou os Belle Chase Hotel e o Quinteto Tati. Escreveu contos, letras de canções, argumentos para cinema e participou como músico e actor em filmes de Fernando Vendrell, Edgar Pêra e outros, assinando pelo caminho algumas bandas sonoras para documentários. Estreou-se a solo em 2007 com o álbum 1970 e acaba de lançar o seu novo disco, Boato.

Outros eventos Absolut Poetry nesta semana:
Quinta-feira, 25 de Junho, 22h30 @ MusicBox (10€ Bilhete válido para todos os espectáculos da noite)
Absolut Poetry - Spoken WorldEspectáculo ''Os Malditos: Cesariny'' com Rodrigo Leão (teclados), Gabriel Gomes (acordeão), Rogério Samora (voz) e Viviena Tupikova (violino)

Sábado, 27 de Junho, 22h30 @ MusicBox (10€ Bilhete válido para todos os espectáculos da noite)
Absolut Poetry - A Poesia Está na Rua - Espectáculo com os MC’s, Ruas (Yellow W Van), Sagas, NBC e Bob da Rage Sense acompanhados por DJ Ride (Turntablism).

Assim de repente, tudo isto me parece muito bem.

terça-feira, junho 23, 2009

Palha de Abrantes

Abrantes - vista parcial

Breve História da Palha de Abrantes
Conta a tradição que a denominação Palha de Abrantes se encontra associada ao movimento fluvial que em tempos animava o Tejo. Antigamente toda a palha proveniente do Alto Alentejo era transportada em carros de tracção animal e depositado em cais no Rossio de Abrantes para mais tarde seguir em barcos para todo o Ribatejo. Abrantes era um porto de paragem no abastecimento de, entre outros produtos, fardos de palha para os animais de tiro da capital (Lisboa).
Quando surgiram os comboios e como as viagens eram demoradas, os passageiros que vinham das Beiras e fronteira, já cansados, exclamavam: “Já chegámos à terra da palha!!!” Nasceu assim a citação de “se queres palha vai a Abrantes”.
Foi então que as freiras dos quatro conventos, existentes em Abrantes se lembraram de, com fios de ovos e ovos moles, baterem os ouriços (primeiro nome dado à palha). Mais tarde, deu-se-lhe o nome de Palha de Abrantes, porque os fios de ovos lembravam os fardos de palha no cais do Rossio de Abrantes. É senso comum que este produto tem a sua origem nos conventos de freiras existentes na cidade, nomeadamente o Convento da Graça, da Ordem das Dominicanas. Considera-se uma “obrigação” para quem vai a Abrantes provar os doces regionais, dos quais o mais célebre é este.

Abrantes sobre o Tejo

Abrantes, terra da palha,
Terra boa p´ra viver
com certeza não é burro
quem desta palha comer

Eu sou a palha de Abrantes,
feita de açúcar e ovos
um doce que muito agrada
tanto a velhos como a novos

Todos os burros comem palha;
saber dar-lha é a questão.
Mas desta até os doutores
a comem e com razão

Sou famosa em Portugal,
meu sabor é sem igual,
belo brilho e linda cor,
que bom é o meu sabor

Na Praça Barão da Batalha,
que praça da palha era dantes,
não como qualquer palha!
como a palha de Abrantes!

Açúcar, canela, claras de ovos, gemas de ovos;
geralmente como sobremesa, mas pode ser consumido a qualquer hora do dia;
aquilo ali parece chocolate, mas não é: é torradinho do forno.
Chlép, chlép, lamber os dedos no final...

Castelo de Abrantes à noite. Tem um jardim lindíssimo a toda a volta,
com uma vista magnífica sobre a cidade e sobre o rio Tejo.
E este post surgiu porque a do noVítá queria muito saber o que é Palha de Abrantes.

Crimes e Escapadelas... da Concha

Anúncio dos anos 50. It leaves you breathless! Lindo!

segunda-feira, junho 22, 2009

We Are The Champions

Botswana, África do Sul - 1984
Em meados dos anos 80, a África do Sul do apartheid era um pária internacional sujeito a boicote cultural por parte das Nações Unidas. Por isso, é fácil de perceber o enorme choque que foi a ida dos Queen a Sun City, uma espécie de Las Vegas Afrikaner, rodeada de guetos negros, onde deram sete concertos a trocos de uns quantos milhões. "Pensámos muito na questão moral daquilo tudo", explicou Brian May. Acabaram por doar dinheiro a uma escola local para crianças negras cegas e surdas, mas ainda assim entraram para a lista negra das Nações Unidas.

Retrato do Artista Enquanto Jovem - 102ª parte

Bob Dylan é o Pai do meu País.
Quem é, quem é?

Preconceito

Edward Hopper - Chop Suey, 1929
Preconceito

Porque eu não era, enfim, menino-bem
E ao mundo vim por cálidos caminhos,
Tortuosos, escuros e maninhos,
Filho de Rosa Nada e Zé Ninguém;

O facto de não ter, como convém,
Ainda que estafados, pergaminhos
No fundo de bafientos escaninhos,
Bastou para merecer o teu desdém.

Na absurda esperança de que um dia
Tolerasses os meus natos defeitos,
A vida fui tecendo de enganos...

Hoje tu, sem amor nem companhia,
Mal-dizes esses 'stupidos conceitos,
Deplorando o fluir dos verdes anos...!

António de S. Tiago - Julho 1965

Snoop Doggy Dog

A razão de um cão ter tantos amigos,
deve-se ao facto de ele abanar o rabo, em vez da língua!...
(Anónimo)

sábado, junho 20, 2009

Tudo Boas Raparigas - Louisa Merrifield

“Hoje em dia, cada vez é mais difícil, arranjar pessoal doméstico decente”. Era esta a lamúria ouvida com mais frequência em alguns lares da classe média em Inglaterra nos anos 50. Da mesma coisa se queixava Mrs. Sarah Rickets, uma velha viúva meio entrevada, de Blackpool, Inglaterra. As boas maneiras e o refinamento tinham-lhe passado ao lado e os seus hábitos pessoais eram no mínimo estranhos. A sua refeição favorita era misturar glicerina (sim, leram bem, glicerina) com compota de amora-silvestre e empurrar aquilo tudo pela goela abaixo com uma mistura de rum e uma garrafa de cerveja preta. Depois de ter colocado um anúncio num jornal local pedindo uma governanta, foi completamente inundada de respostas. Porém, bastaram a Mrs. Rickets apenas dois dias para se decidir em contratar Louisa Merrifield, uma mulher que, segundo ela, “tinha cara de bota da tropa” e cuja linguagem solta e ordinária, absoluta falta de educação e modos grosseiros lhe agradaram bastante. Louisa mudou-se para casa de Mrs. Rickets com um sujeito simplório a quem chamava marido e durante algumas semanas, todos pareciam muito felizes e contentes com aquele arranjinho, ao ponto de Mrs. Rickets ter alterado o seu testamento a favor de Louisa. Esta, contudo, começou a ficar farta dos caprichos e constantes bebedeiras da sua patroa e, assim que o novo testamento foi assinado e autenticado, ela decidiu dar um empurrãozinho à coisa. Com a conivência do alegado Mr. Merrifield, ela comprou veneno de ratos e começou a misturar quantidades generosas do mesmo, na compota que Mrs. Rickets comia alarvemente à colherada directamente do frasco todas as noites. É claro que, ao fim de alguns dias, a senhora foi desta para melhor e não tardou muito até Louisa ser apanhada e fechada na prisão de Strangeways, Manchester. Foi enforcada no dia 18 de Setembro de 1953, chorada por poucos e não tendo deixado grandes saudades.

sexta-feira, junho 19, 2009

Retrato do Artista Enquanto Jovem - 101ª parte

Numa entrevista, ficamos sempre a saber mais sobre o entrevistador do que sobre o entrevistado. Ao fazer perguntas, o nosso interlocutor fica muito mais exposto. O entrevistado só responde aquilo que lhe apetece. A primeira vez que li esta frase já foi há muito tempo, penso que numa Interview, precisamente durante uma entrevista. Depois disso, já a vi repetida várias vezes por aí. Quem a disse foi esse anjinho lá de cima. E... parece um rapaz, não parece? Pois, não é. Quem é, quem é?

quinta-feira, junho 18, 2009

The Beautiful People

19 de Novembro, 2007. O Pavilhão Atlântico está ocupado com quase todo o staff e logística respeitante à Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, de Julho a Dezembro do mesmo ano. Todo, excepto a arena onde se realizam os concertos. Sendo um espaço de grande versatilidade, foi durante esses seis meses sujeito a diversas configurações que não têm nada a ver com a nossa história. Agora imaginem o que é uma pessoa estar sossegadinha sentada à secretária a trabalhar e começar a ouvir o check-sound do concerto do Marilyn Manson nessa noite, ali mesmo ao lado. Quéqué isto? Perguntavam as coleguinhas. É para o concerto logo à noite, estão a fazer o check-sound, respondia eu. Concerto de quem? Do Marilyn Manson. Quem é essa? Essa, não... esse. Mas não tem nome de mulher? Pois, é mesmo assim. E conheces? Conheço. Também só conheces é malucos. Também é verdade...
E o barulho continuava. Comecei a ficar cheia de nervos. Vem de lá a minha chefe, espavorida e transtornadíssima de dentro do seu gabinete.
- Mas que barulheira infernal vem a ser esta?
Expliquei outra vez. Mais ou menos o mesmo diálogo.
- Mas que chatice! Não faltava mais nada agora! Ligue-me lá ao Sr. Fulano, se faz favor.
Não só liguei ao Sr. Fulano, que era um dos responsáveis pela gestão do pavilhão durante a Presidência, (e que era uma pessoa que estava li todos os dias connosco) como aproveitei logo para lhe cravar um bilhetezinho, de certeza que deve ter aí uns quantos no bolso para dar aos amiguinhos, não? Mas você quer mesmo ir ver esse maluco? – perguntava ele. Quero, já que estou aqui, não é?... E se há-de ir para os porcos…
A esta hora já eu estava excitadíssima com aquilo tudo. O check-sound continuava. É claro que o Sr. Fulano me arranjou dois bilhetes...
Assim que tive uma folga no trabalho, esgueirei-me pelos corredores e túneis de acesso aos camiões TIR que trazem a parafernália toda, andei por ali no backstage a ver os roadies a tratar das últimas coisas, ninguém me ligou nenhuma e ainda bem, cruzei-me com um rapaz muito alto, muito magro, muito pálido, nariz adunco, cabelo liso e escorrido e pensei “olha, este parece mesmo o Marilyn Manson, mas sem maquilhagem...” Parei, de repente. Porra, é mesmo ele! E era. Ficou ali a um canto, quieto e calado, sózinho e vi-o dar uma entrevista a um jornalista qualquer, mas tal e qual como estava, de cara lavada e com uma roupa normalíssima, tipo jeans pretas e camisola de lã. Achei aquilo tudo muito estranho. Até que senti no ombro a patorra de um dos volumosos seguranças - hey lady, may I help you, lookin' for something? Oooh, no no... I...hum... I work here - gaguejei. Anyway, would you please be so kind and step outside, please. You're not allowed to remain here. Oooh, ok, ok...
E o concerto, perguntam vocês?! Foi um daqueles espectáculos em que ao fim de dez minutos de ali estar, eu já só olhava para o relógio, desertinha que aquilo acabasse depressa. Pior do que aquilo, só cuspir na sopa. Foi muito mau. O som, a mise-en-scéne do artista, que cena deplorável e pobre, a voz roufenha, o público… ai, o público… pareciam zombies. Como dizem os franceses “c’etait penible”. Os músicos tocavam um para cada lado e o MM parecia que estava ali a fazer o maior frete do mundo. Se pensam que ao vivo encontram a mesma energia que se vê nos vídeos, esqueçam. E não cantou “The Beautiful People”. Só não me fui embora logo, porque do Parque das Nações a Paço d’Arcos ainda é longe, estava frio, chovia que se fartava, não tinha levado carro e tinha boleia directa para casa. Portanto, aguentei estóicamente e támazécaladinha que o bilhete só te custou um “obrigadinha”.
Parece que o Marilyn Manson veio cá ontem outra vez, ao Porto. Ainda não li nada sobre o assunto. Já agora...

Tudo Boas Raparigas - Toni Jo Henry

A bonita Toni Jo Henry parecia ter tudo na vida: uma beleza capa-de-revista, elegante, inteligente e ainda por cima pertencia a uma muito tradicional e respeitável família do Louisiana. Para além da sua forte personalidade, tinha também uma fascinação doentia pelo lado mais obscuro da vida. Aos 16 anos, era já uma das prostitutas mais requisitadas num bordel de luxo em Shreveport, Louisiana. Um dia, ao fazer um trabalhinho por fora no estado do Texas, ela conheceu um marginal chamado Cowboy Henry, apaixonaram-se e casaram imediatamente. Infelizmente, os seus planos para um futuro radioso em conjunto, tiveram que ser adiados, pois o Cowboy estava apenas em liberdade sob caução, enquanto esperava o resultado duma acusação por homicídio em segundo grau. Quando a sentença foi lida, foi condenado a 50 anos de prisão e, a jovem recém-casada Toni Jo ficou absolutamente arrasada. Durante o julgamento, jurou bem alto para toda a gente ouvir, que havia de tirar o marido da prisão o mais rápido possível. Depois de reunir um considerável arsenal de armas das mais diversas proveniências, ela tinha que arranjar um automóvel que lhes possibilitasse a fuga. Depois de conseguir boleia numa estrada secundária, tratou de encostar o cano duma espingarda à cabeça do pobre condutor, mandou-o seguir até um local bem isolado e obrigou-o a despir-se. De acordo com alguns relatórios, Toni Jo sacou de um alicate, com o qual segurou o orgão vital do desgraçado e arrastou-o assim até um arrozal (esta do alicate, também não percebi). Assim que lá chegaram, matou-o com um tiro na cabeça e bazou logo dali para fora. Nunca conseguiu chegar até Cowboy Henry e foi rapidamente apanhada e condenada à morte na cadeira eléctrica. Depois de lhe raparem o cabelo, ela fez a sua última caminhada numa prisão do Louisiana no dia 28 de Novembro de 1942 com uma bandana bem colorida a envolver-lhe a cabeça. Tinha apenas 26 anos.

quarta-feira, junho 17, 2009

Cash & Carry

Parece que agora é que foi. Estava difícil, hein Ciccone? Quantos zeros à esquerda terá ela acrescentado no cheque? Sabem que mais? Toda a gente com condições financeiras e psicológicas devia fazer o mesmo. Todo e qualquer ser humano que retire uma criança a uma vida de miséria, abusos e violência, seja em que parte do planeta fôr, merece todo o meu aplauso, respeito e consideração. É por isso que cada vez me mete mais nojo o mundo sórdido do futebol, onde se pagam quantias verdadeiramente obscenas por um jogador. É uma afronta à miséria. Não deveria nunca ser permitido tal coisa. Sinto-me revoltada. Essa gente não tem coração?

terça-feira, junho 16, 2009

Tudo Boas Raparigas - Louise Peete

Louise Peete, uma das únicas quatro mulheres a serem executadas na câmara de gás da Califórnia foi, ao longo da sua vida, vista como uma senhora refinada, culta e de fino trato, por todos quantos se cruzaram com ela. De facto, Louise tinha nascido no seio duma família tradicional e financeiramente confortável em 1883 e foi educada para ser uma típica senhora do Sul, (Southern Belle, como eles dizem) tendo recebido a melhor e mais esmerada educação que os seus pais puderam oferecer. Infelizmente, Louise tinha outras idéias e depois de ter sido expulsa do dispendioso e selecto colégio onde estudava por “comportamento inapropriado para com o sexo oposto”, abraçou uma carreira repleta dos maiores sucessos criminosos, por toda a América. Em Waco, Texas, ela enfrentou uma acusação de homicídio mas, no julgamento, acabou por ser absolvida depois de ter explicado que tinha “morto a vítima, para defender a sua preciosa virtude sulista”. Imagino que se tenha fartado de chorar... Algum tempo mais tarde, não teve assim tanta sorte e foi condenada a prisão perpétua, na Califórnia, por ter assassinado um empresário. Foi uma prisioneira-modelo, tendo cumprido a sua pena durante 19 anos, ao fim dos quais foi libertada em 1943. Um bondoso casal de idosos que tinha visitado Louise na prisão, ofereceu-lhe uma casa e, depois de aceitar, ela agradeceu e compensou o simpático casal de velhotes, enfiando uma bala na nuca da senhora, tendo-a enterrado no quintal da casa, debaixo duma árvore de abacate. Desta vez, a justiça não foi tão branda e no dia 11 de Abril de 1947, Louise Peete instalou-se sóbria e elegantemente na câmara de gás, mais parecendo uma respeitável e impoluta catequista que se preparava para ensinar mais um capítulo das sagradas escrituras às suas criancinhas.

Retrato do Artista Enquanto Jovem - 100ª parte

A história da minha vida é feita de entradas e saídas por portas das traseiras, portas laterais, elevadores secretos e de todas as maneiras que existam de modo a evitar ser incomodada pelas outras pessoas. Quem é, quem é?

segunda-feira, junho 15, 2009

Tertúlia Virtual - Que Lugar Te Faz Sentir Em Casa


Ode à Paz

Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,

Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!
Natália Correia, in Inéditos (1985/1990)


Onde houver Paz, é a minha casa. Onde houver Paz, é o meu lugar.

sexta-feira, junho 12, 2009

Sete Sardinhas

(...) A sardinha, tradicional imagem das Festas e dos arraiais populares, associa-se ao conceito, trajando sete novos fatos concebidos por sete artistas plásticos convidados pelo atelier Silva! (...) Sete Sardinhas, sete artistas, sete olhares diferentes sobre a cidade de Lisboa.
Nuno Saraiva
Nuno Saraiva, autor de banda desenhada, erotiza a sardinha, cobrindo-a de seios femininos em vez de escamas. “Quando me convidaram para fazer esta sardinha, pensaram no meu tipo de trabalho, um cocktail que envolve crítica social, política e erotismo. Procurei fazer algo de saboroso. Pensei numa sardinha política que só acabava por ser um carapau de corrida. Depois tive uma idéia parola, a de desenhar uma sardinha fálica mas não achei piada nenhuma. Não passou de um entusiasmo de copos entre amigos. Lembrei-me então da obra dos gráficos e desenhadores de final do século XIX e das maminhas do Bordalo Pinheiro. Acabei por fazer um trabalho exaustivo de pesquisa de várias maminhas de todos os tipos e feitios, tons de pele, alegres, tristes, para a frente, para trás, pêra, pêssego, carica, bóia… juntei tudo e comecei a pintar por tons e a mexer com os volumes. Coloquei as maminhas orientais em cima para dar brilho as de África negra mais em baixo para criar contraste. As maminhas dos países nórdicos ficaram no centro para estabelecer uma linha de equilíbrio. Com uma observação atenta, reparamos que algumas têm tatuagens, outras piercings e podemos encontrar aí uma Lisboa moderna. Há dez anos atrás, faria uma sardinha cinzenta, hoje com o multiculturalismo da cidade a sardinha saiu mais colorida”.

João Maio Pinto
João Maio Pinto, designer e ilustrador, criou uma sardinha arcimboldiana composta inteiramente por elementos vegetalistas, flores e frutos, procurando reflectir a fusão do homem com a cidade através da natureza. “Nasci no Caramulo onde a natureza foi sempre vista do ponto de vista humano, por mais luxuriante que fosse. Esta zona é uma das pioneiras da arquitectura paisagística em Portugal. Mas mal cheguei a Lisboa, senti-me em casa. Interessa-me a possibilidade que a cidade oferece de conciliação com a natureza. Os apontamentos de Lisboa onde a natureza surge desenhada e planificada pelo Homem: Belém ou a Tapada da Ajuda. Locais que resultam da influência de pessoas que não eram de aqui ou que não viviam só aqui: de África, da Índia ou do Japão. Marcas que Lisboa sofreu ao longo dos tempos e que foi assimilando através dos jardins e que se manifestam nos motivos vegetalistas exóticos e de muita cor. A minha sardinha tem que ver com o que vem de fora e é exterior a Lisboa. Esta é, por isso e de certa forma, uma sardinha estrangeira com um imaginário barroco, que não quis que fosse de época mas que surgisse actualizada”.

Luís Henriques
O desenhador e ilustrador Luís Henriques concebeu uma sardinha evocativa do universo e do traço de Stuart Carvalhais. “O trabalho resulta de uma encomenda específica. Ao contrário dos meus colegas, aos quais foi dado um tema livre sobre Lisboa, foi-me pedido que encontrasse uma sardinha à maneira do Stuart. Aliás, a sardinha original não tinha esse pedaço de cor, porque considerei mais característico o desenho a preto e branco. A tarefa era difícil, procurei conjugar um traço sintético que evocasse uma pincelada rápida com uma ponta de humor, daí o olho e o sorriso da sardinha. Se o imaginário da Lisboa de Stuart se alterou – as varinas, os pedintes, as mulheres elegantes que já não são as mesmas – o seu trabalho mantém-se como um dos mais importantes no domínio das artes gráficas em Portugal. Por isso tentei reproduzir o seu traço aparentemente casual mas premeditado, reforçando-o com o X que aparece na cauda e funciona como uma cruz e com o pormenor de textura no lombo que são letras – à la Stuart – que funcionam como assinatura e que não são mais do que o contrato de trabalho posto na própria ilustração”.

Bela Silva
Bela Silva, pintora, escultora e ceramista, apresenta uma sardinha barroca inspirada nos ornamentos dos painéis de azulejos do século XVIII. “Foi muito complicado porque não podia sair da morfologia da sardinha, mas quando vi o desenho do Pedro Proença com o chapéu alto, resolvi sair da linha e fazer uma mulher, uma sereia. É uma obra que sugere relevo e que podia muito bem ser uma peça de cerâmica com estas entradas e saídas, muito diferente de todas as outras que são mais gráficas. É também uma homenagem ao Tejo, um rio maravilhoso que atravesso todos os dias. Lisboa não seria a mesma sem ele. Nasci em Almada mas tinha um avô que vivia em Lisboa perto da Assembleia da República e de um restaurante indiano onde almoçávamos aos domingos. Mas foi só quando vim para Belas Artes que comecei a frequentar mais a cidade. Sempre que queria fazer um pouco de noite vinha para Lisboa. Acabava por perder o barco e ficava duas ou três horas à espera do próximo. Comecei assim alguns namoros. Estava ali com um amigo e enquanto o barco não chegava tínhamos que nos entreter de alguma maneira”.

Henrique Cayatte
Henrique Cayatte, designer e ilustrador, procurou sintetizar a forma como vê Lisboa na representação de uma sardinha mãe. “Esta é uma sardinha mãe, tem filhos que são o futuro da cidade e que se passeiam no rio. A sardinha somos todos nós. Todos temos irmãos, amigos, filhos, todos passeamos em grupo. A cidade é uma cidade de pessoas e a sardinha é uma metáfora. Nasci em Lisboa, eu e o meu irmão andávamos de mãos dadas com a minha mãe pela cidade. Viajo muito, mas fico sempre em Lisboa à espera da Primavera. Lembro-me de levar a minha filha à escola e dela notar que os jacarandás da D. Carlos I já tinham florescido porque têm uma cor muito bonita. Começo pela Feira do Livro e espero que o tempo fique bom para andar a pé, que é um dos grandes prazeres que esta cidade oferece. Como sou designer, tenho uma memória visual muito forte e sinto nostalgia pelas coisas que já não existem, mas satisfação com a capacidade de regeneração da cidade. Este novo tipo de comércio que existe no Bairro Alto é incrível, a própria forma como as lojas se apresentam, como os franceses dizem “com três vezes nada”. Nem se pinta a parede, colocam-se objectos. Isso é extraordinário. E a partir das quintas-feiras vêem-se mares de gente em todos os lados, sobretudo jovens. Isso deixa-me muito feliz”.

André Carrilho
Conhecido pelas suas caricaturas, André Carrilho define-se como ilustrador porque considera o conceito de ilustração mais abrangente que o de desenhador ou caricaturista. “A minha actividade de caricaturista surge muito ligada à ilustração, é quase uma subcategoria da ilustração. Faço muita caricatura incorporada na ilustração”. André propõe-nos uma sardinha que evoca o eléctrico de Lisboa. “O resultado final sugere a idéia do metal da patine do tempo, utilizando o farol do eléctrico como o olho da sardinha. Procurei dar um carácter mais urbano à sardinha. Também pode ser um brinquedo de lata ou um submarino. Não racionalizo muito o trabalho. No entanto, esta sardinha corresponde muito às minhas referências da Banda Desenhada e da animação do Yellow Submarine. O eléctrico foi um ponto de partida para criar algo que pode ser identificado com ele, mas não faço muita questão disso. Sou da Amadora mas vivo em Lisboa desde os dez anos de idade. Gosto imenso das festas da cidade. Estou sempre a dizer aos meus amigos estrangeiros que têm que vir a Lisboa na altura das festas, principalmente do Santo António. Nesse aspecto, considero-me um lisboeta de gema”.

Pedro Proença
O pintor Pedro Proença imaginou uma sardinha com a irreverência e a ironia do seu trabalho habitual, vestida a preceito para as Festas de Lisboa: papillon, chapéu alto e bengala. “É uma sardinha chique porque também há uma Lisboa chique embora não seja a mais recomendável. A sardinha vai para as festas populares como para um grande baile, para não dar uma imagem miserabilista da cidade. A sardinha passa, portanto, a ser uma coisa chique, um alimento rico e as sardinhadas uma coisa fantástica. Nasci acidentalmente em Angola mas vivi sempre em Lisboa desde os oito meses. De vez em quando tenho umas zangas com a cidade porque têm muitas obras ou assim, mas neste momento tenho uma óptima relação com ela, provavelmente por causa da crise. Lisboa tem uma actividade cultural bastante grande que necessita de maior divulgação e de uma movimento de debate mais forte. É uma cidade maravilhosa, feita de colagens muio excêntricas, de palimpsestos de muitas épocas, umas em cima das outras: góticas, barrocas, modernistas... houve uma altura, na minha fase de adolescente, em que não me relacionava muito com as Festas de Lisboa, mas depois passou-me. O Santo António é o nosso Baco, um santo dionisíaco e há uma pulsão forte no ar na altura das festas. Apetece ir para a rua. Talvez para comer umas sardinhas”.
Fonte: Agenda Cultural da Câmara Municipal de Lisboa
Festas de Lisboa Junho 2009