quarta-feira, março 31, 2010

Rubber Soul

Ontem, ao fim da tarde, fui bater pé para o Chiado, enquanto fazia tempo para um jantar de aniversário de um amigo querido. É uma das minhas zonas favoritas de Lisboa, dava um bracinho para poder ter ali uma barraca. Bem, um bracinho talvez não, mas uma perninha. Bem, logo se via. Adiante. Então, andei por ali de nariz colado às montras, cheia de nervos por me apetecer comprar uns 27 pares de sandálias, uns 15 vestidos e mais algumas botas, mas ao pensar no meu pálido salário, passou-me logo a febre. Resolvi entrar na fnac. Aí é que eu me ia desgraçando toda. A minha intenção era só comprar um livrinho para oferecer ao aniversariante. Juro que é verdade. O pior foi quando dei de caras com estes dois exemplares e os vi a rirem-se para mim. Peguei num, peguei no outro, dei-lhes beijinhos e tornei a arrumá-los no sítio de onde os tinha tirado. Foi então que reparei melhor no preço dos ditos cujos. O do John Lennon custava €12,50 e o dos Beatles apenas €5. Sim, leram bem. Doze euros e meio e cinco euros respectivamente. Não queria acreditar! Abracei-me logo a eles. Estes já cá cantam! E um outro da Leni Riefenstahl por apenas €5 também! E ainda um outro sobre cinema para o amigo, também com preço verde. Não posso ir à fnac. Não posso mesmo. Agarrem-me que eu estrago-me toda. Uma verdadeira alma de borracha. Ai, que sou tão fraca...

É claro que estão escritos em estrangeiro, por não haver despesas com tradução é que fazem estes preços maravilhosos. Por mim, podem continuar.
Subi a Rua Garrett toda contentinha e assim que cheguei ao restaurante, mostrei logo as novidades aos convivas (ó pá, querem ver o que eu comprei?!) que, não só ficaram cinzentos de inveja - já queriam ir lá comprar para eles também - como ainda nos pusémos a folhear e a curtir estas fotos incríveis que, como se pode ler na capa, são Unseen Archives. Eram nunca vistos. Muito bem comprados, ó pequena, deixa-me lá ver esse aí... diziam eles. All you need is love.

Entre uma e outra todos os dias são meus

Fernando Pessoa aos dez anos de idade
Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples
Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.
Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimento nenhum.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso, fui o unico poeta da Natureza.

Fernando Pessoa/Alberto Caeiro; Poemas Inconjuntos
Escrito entre 1913-15; Publicado em Atena nº 5, Fevereiro de 1925

segunda-feira, março 29, 2010

Siddartha

"Tudo isto são coisas, coisas que nós podemos amar. Mas não posso amar palavras. É por isso que não aprecio as doutrinas, não têm dureza ou moleza, não têm cores, não têm arestas, não têm cheiro, não têm gosto, não têm senão palavras. Talvez seja isto que te impede de encontrares a paz, talvez sejam as palavras em excesso. Porque também libertação e virtude, também Samsara e Nirvana são meras palavras. Nada existe que seja o Nirvana; apenas existe a palavra Nirvana."
Siddartha - Hermann Hesse
Hermann Hesse por Andy Wahrol
a partir de uma foto de Martin Hesse.

Nascido na Índia no século VI a. C., filho de um brâmane, Siddartha passa a infância e juventude isolado das misérias do mundo, gozando de uma existência calma e contemplativa. A certa altura, porém, abdica da vida luxuosa e protegida, e parte em peregrinação pelo país, onde a pobreza e o sofrimento eram regra. Na sua longa viagem existencial, Siddartha experimenta de tudo, usufruindo tanto as maravilhas do sexo, quanto o jejum absoluto. Entre os intensos prazeres e as privações extremas, termina por descobrir o "caminho do meio", libertando-se dos apelos dos sentidos e encontrando a senda da paz interior. Em páginas de rara beleza, Siddartha descreve sensações e impressões como raramente se consegue. Lê-lo é deixar-se fluir como o rio onde Siddartha aprende que o importante é saber escutar com perfeição.
(texto extraído de uma das "orelhas" do livro Siddartha de Herman Hesse)

"Este Inverno horrível, que nem sequer merece ser chamado como tal, está a dar-me cabo dos nervos. Tivémos neve durante algum tempo, o que me deu bastante prazer, pois andava de trenó durante parte do dia. Desde então, a neve derreteu e tem chovido. Está um ambiente quente e húmido, sopra constantemente um vento detestável, temos um tempo completamente descaracterizado. Estou perplexo com estas alterações do clima em que os Verões são frescos e os Invernos, quentes. Sinto-me consternado no mais fundo da minha alma, pois só gosto de frio ou calor extremos, cores vivas e luz límpida."
(extracto de uma carta de Herman Hesse a Stefan Zweig datada de 9 de Fevereiro de 1904)

sexta-feira, março 26, 2010

Oh Baby Baby, It's A Wild World...

Cartaz duma noite de Verão, em Setembro de 1963. Uma turné pelos Esteites. Reparem bem na Special Guest Star... Como é que alguém tinha coragem de sair à rua com um nome daqueles?!?! E mais ainda: usá-lo como nome artístico! Não havia gestores de carreira naquela época? Engelbert? Engeeelbeeert???? Humperdinck? Ninguém foi capaz de lhe dizer: "eh pá, ó Engelzinho, muda de nome my man, assim não vais lá... isto assim não atrai o gajedo, man... queres passar o resto da vida a pôr creme nas mãos?!..." Vão ver que foi por isso que nunca mais se ouviu falar do homem. Enquanto que com os outros, foi o que se viu...

quarta-feira, março 24, 2010

A Solução Final

"Si vous êtes né dans un pays ou à une époque où non seulement personne ne vient tuer votre femme, vos enfants, mais où personne ne vient vous demander de tuer les femmes et les enfants des autres, bénissez Dieu et allez en paix."
Les Bienveillantes - Jonathan Littell


"A cultura não nos protege de coisa nenhuma. Os nazis são a prova disso. Pode sentir-se profunda admiração por Beethoven ou Mozart e ler o "Fausto" de Goethe e ser-se uma porcaria de ser humano.
(...) O que pretendo demostrar de todas as formas, com uma personagem como Max, é que também num período da História, aliar-se aos nazis, foi para muita gente uma opção ética. Não se trata de ter escolhido ficar do lado dos maus. (...) Os que escolheram os nazis fizeram-no conscientes de que tomavam um caminho para eles ético, cujos erros ou imperfeições deviam ser melhorados.
(...) Continua a ser para mim um mistério. O facto de se organizarem assassinatos maciços, o facto de que uma pessoa possa matar outra, é que acho estranho, raro, que enquanto aqui estamos alguém possa estar a torturar, num qualquer sotão, um ser humano.
(...) parece-me estranho que na cabeça dessa gente possa caber a possibilidade de amar os filhos, a familia e ao mesmo tempo torturar os seus semelhantes ou filhos de outros. Tentei analisar e ver através dos olhos de Max (...)
Jonathan Littel - entrevista no suplemento Ípsilon do jornal Público de 28 Dezembro 2007.
"(…) as únicas coisas indispensáveis à vida humana são o ar, o comer, o beber e a excreção e a busca da verdade. O resto é facultativo."

Com um narrador ex-oficial e bissexual, o escritor Jonathan Littel desvenda as origens apocalípticas do Mal.
Depois de arrebatar o principal prêmio literário francês, o Goncourt, e o Grand Prix du Roman de l'Académie Française, em 2006, o primeiro livro de Jonathan Littell chegou a Portugal em Dezembro de 2007, pela editora Dom Quixote. Na capa do calhamaço, cuja narrativa conta com 895 páginas, vem estampado o título: As Benevolentes, - uma referência à tragédia grega de Ésquilo - personagens da mitologia grega, também conhecidas como "Erínias" ou "Eumênides", deusas perseguidoras, vingadoras e secretas.
Filho do ex-jornalista e escritor de thrillers, Robert Littell, Jonathan nasceu nos Estados Unidos, ganhou cidadania francesa e, agora, vive em Barcelona. Estudou em Yale, viu de perto os dramas da Bósnia, Tchetchénia e Congo, regiões devastadas por guerras civis. Em 2001, abandonou o activismo humanitário, dedicando-se exclusivamente à pesquisa que resultou em Les Bienveillantes.
Apesar da origem ianque, o ex-activista deu à narrativa o idioma francês, justificando-se por ter os franceses Gustave Flaubert e Stendhal como heróis literários. Como o americano Philip Roth, Jonathan esmiuça os meandros do realismo histórico, emprestando seu ponto de vista, a partir das experiências na Bósnia. Entretanto, sem distorcer o referencial pragmático dos factos, transforma num romance, os relatos de um oficial do exército nazi.
Jonathan dá voz ao Rottenführer do exército nazi, Maximillian Aue, deixando-o relatar atrocidades nos frentes de Estalinegrado, passando por Berlim até a Lituânia. No livro, surgem personagens reais como Adolf Hitler, Albert Speer e Rudolf Hess. A narrativa também chega ao gabinete de Heinrich Himmler, um dos responsáveis pela “solução final”, cujo objetivo era eliminar os judeus da Terra.
Porque, segundo eles, se tratava duma "questão de higiene política". O objectivo de Jonathan é, sem dúvida, perseguir a origem do mal, descontando na humanidade a responsabilidade pelo extermínio de milhões de judeus. Nesse sentido, aparecem as contribuições da Ucrânia à política nazi e de outros países. Fixando o enredo, o escritor também explicita a hipocrisia nazi quando propõe um narrador bissexual e ex-oficial das SS.


"Estávamos ali a matar o tempo, antes que o tempo nos mate a nós."

segunda-feira, março 22, 2010

Blue Suede Shoes

Vamos lá a saber então, rapaziada, quem são os amiguinhos do Elvis?
(da esquerda para a direita, já agora...)

domingo, março 21, 2010

Cão Como Nós

Adorable? Definitely!

Apesar da Primavera ter começado hoje - iiiiuuuuupiiiiii!!! - e perante a ternura das imagens, não resisti a mostrar-vos a campanha da Moncler, uma famosa marca italiana de fatos de esqui e blusões de penas para o Outono-Inverno 2009/2010. A marca contratou o conceituado fotógrafo de moda Bruce Weber que usou como "modelos" os seus próprios golden-retreiver.
Mas esta campanha publicitária não serviu apenas para promover a marca. Teve também como objectivo a generosa doação de parte dos lucros para a instituição de caridade Green Chimneys.
"O mundo da arte e da fotografia fazem parte desde sempre do espírito da Moncler e, cada vez mais, este foi traduzido em iniciativas relacionadas em parcerias com artistas, designers, eventos e directamente para a criatividade das campanhas publicitárias das colecções Moncler. Trabalhar com Bruce Weber é um sonho que se torna realidade", diz Remo Ruffini, presidente e director criativo da marca.


"Queremos agradecer a Bruce pelo seu contínuo apoio ao nosso programa durante tantos anos", diz o fundador da Green Chimneys, Dr. Samuel B. Ross Jr. "Ele não é apenas um fotógrafo extraordinário, mas um filantropo notável com um grande coração. As nossa crianças, animais e funcionários agradecem-lhe por fazer a diferença. Faz com que um dos nossos muitos programas terapêuticos dêem a algumas das nossas crianças uma oportunidade de treinar cães-guias para pessoas com deficiência. Desejamos à Moncler e ao Sr. Ruffini tudo de melhor com a sua nova campanha e agradecer-lhes, também, pela generosa doação ao nosso programa".

Bruce Weber (n. 29 /Março/1946, Greensburg, Pensilvânia) é um fotógrafo de moda norte-americano e cineasta ocasional. Tornou-se conhecido pelas suas campanhas com as casas Calvin Klein, Ralph Lauren, Pirelli, Abercrombie & Fitch, Revlon e Gianni Versace, bem como o seu trabalho para revistas de moda como a Vogue, GQ, Vanity Fair, Elle, Life, Interview e Rolling Stone.

quarta-feira, março 10, 2010

Mad Men

Nova York, 1960. A história desenrola-se nos corredores da agência de publicidade Sterling Cooper, especialista em conquistar as melhores campanhas publicitárias. Don Draper, director criativo da agência de Madison Avenue, é um homem atraente e impecavelmente bem vestido, cobiçado pelas mulheres e invejado pelos homens. Orfão de uma prostituta, casado e com filhos, Don defende os valores clássicos, mas entretém-se a coleccionar amantes. Além da vida dupla, tem um passado duvidoso que se vai revelando ao longo da série: não se sabe como ganhou o estatuto de um dos melhores criativos publicitários de Nova Iorque e até usa um nome que, afinal, não é o dele. Mad Men, é certamente, a série com mais Jack Daniels e cigarros Lucky Strike por minuto. O retrato da época tem arrancado elogios aos críticos: o boom da publicidade, o aparecimento de uma nova classe burguesa, os conflitos raciais, o adultério, os castigos corporais aos filhos, a omnipresença do álcool e dos cigarros numa altura em que a proibição do tabaco em espaços públicos era impensável. O argumento é da autoria de Matthew Weiner - escritor e produtor de "Os Sopranos"- e, como se não bastasse, a respeitável revista Time considerou-a a melhor série de 2009, tendo já ganho quatro Globos de Ouro e nove Emmy Awards, entre eles o de melhor série dramática e melhor argumento em drama. Frank Rich, crítico do New York Times, disse que a série se tornou um ícone nos EUA não só porque é hoje uma inspiração para as tendências da moda, mas sobretudo porque mostra o fim de uma era na América e o início de outra. A não perder.

Extracto do Jornal "i" - 18/02/10

Fox Next, às 4ªfeiras, 21.30h.

domingo, março 07, 2010

Pretty In Pink

Vejam lá se descobrem que é a pretty baby de cor-de-rosa...

Snapshots - 3

Eu nunca disse que todos os actores são gado; que eu disse foi
que todos os actores deviam ser tratados como gado. - Alfred Hitchcock

quinta-feira, março 04, 2010

Cats

Ronrono, logo existo; durmo, logo sou feliz;
mio, logo dão-me comida.
Nicholas Cage
Steve Martin
John Lennon & Yoko Ono
Christina Ricci
George Harrison
Julie Delpy
Vivien Leigh
Paul McCartney
Morgan Freeman
Audrey Hepburn
Kurt Cobain
Penelope Cruz
John Lennon
Elizabeth Taylor
James Dean
Drew Barrymore
Frank Zappa
Chloe Sévigny
Clark Gable & Carole Lombard
Cameron Diaz
David Bowie
O Homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos.
Eles sabem o que precisam saber. Nós não. -Fernando Pessoa