segunda-feira, junho 22, 2009

Preconceito

Edward Hopper - Chop Suey, 1929
Preconceito

Porque eu não era, enfim, menino-bem
E ao mundo vim por cálidos caminhos,
Tortuosos, escuros e maninhos,
Filho de Rosa Nada e Zé Ninguém;

O facto de não ter, como convém,
Ainda que estafados, pergaminhos
No fundo de bafientos escaninhos,
Bastou para merecer o teu desdém.

Na absurda esperança de que um dia
Tolerasses os meus natos defeitos,
A vida fui tecendo de enganos...

Hoje tu, sem amor nem companhia,
Mal-dizes esses 'stupidos conceitos,
Deplorando o fluir dos verdes anos...!

António de S. Tiago - Julho 1965

3 comentários:

the dear Zé disse...

Sem preconceitos te digo que nunca tinha ouvido/lido o nome desse senhor. Já valeu a pena hoje a visita...
Bêjo

roserouge disse...

Caçador, esse senhor aí, é o senhor meu Pai. Já tenho publicado aqui outros poemas dele, sob a mesma etiqueta. Se conheceres algum editor que queira publicar em papel...

pureza disse...

E esse, rosa flor, é um dos poemas mais bonitos do teu pai.