domingo, janeiro 18, 2009

Fogo nas Entranhas

Tânia Leal - "Serenata" - 2005 - acrílica sobre tela - 0.80/0.90

Estavas, linda Inês, posta em sossego...eis senão quando toca o telefone. Triiiiimmm!
Era a Claire, a francesa. Olá, tás boa? Tou e tu? Bem, olha, emprrrestas-me o teu livrrro Fogo nas Entrrranhas, aquele do Almodovarrr que a Ví falou na Terrrtúlia? Tá bem, vens cá buscá-lo? Não, vem cá jantarrr logo à noite e trrrazes-mo então! Ah, só me convidas pra jantar para eu te levar o livro! Interesseira! Nada disso, o jantarrr é apenas um prrretexto parrra a gente se juntarrr! Trrraz o vinho! Ok.
Tornei a mergulhar a cabeça no maldito do relatório e contas. Triiiiiim! Outra vez? Porra, nunca mais acabo esta merda! Toooooouuuu? Era a Rosário.
- Olá, tás boa?
- Sim, e tu?
- Que fazes logo à noite?
- Vou jantar a casa da Claire.
- Ai, é? Ó pá também quero ir!
- Ganda pendura! Liga-lhe a dizer que vais e leva a sobremesa.
E foi muito bom. Uma reunião de três amigas de longa data, na plenitude dos seus...hããã...35 anos (já feitos, claro!) em que, por entre ameijoas vietnamitas, cogumelos salteados, feijão verde, arroz branco, costoletas de porco e um tinto do Douro a empurrar aquilo tudo, se falou de tudo e mais alguma coisa. E a conversa surge naturalmente. Sem perguntas, sem pressões. Sem ânsias de vedetismo, sem egocentrismo. Apesar de já conviver com estas pequenas há muitos anos, fiquei a conhecê-las um pouco melhor e elas a mim. E é meu orgulho e previlégio saber que tenho como amigas, mulheres daquela fibra, daquele sangue. A parte melhor das relações entre as pessoas, sejam de amor, de amizade ou outra coisa qualquer é ir descobrindo particularidades que não sabíamos que estavam lá. Deixarmo-nos surpreender. E será que aquela pessoa sempre foi assim ou só agora é que eu consegui ver isso? Isto já cá estava antes ou só chegou agora? Ir conquistando terreno, aos poucos, ver até onde se pode ir, ir só até onde nos deixam. Deixar as pessoas abrir o coração e ouvir. Saber ouvir também é importante. E raro. A intimidade também se conquista. Obrigada, Claire e Rosário pelo óptimo jantar de ontem. E a culpa foi toda da Ví.

7 comentários:

Anónimo disse...

Gosto do seu texto. Deveria escrever mais. E a sério. Não que suas tiradas de ira e humor não sejam ótimas, mas quando falas sério é bom também.
A Vi tem muita culpa nisso tudo.Imagine o que não é a virtualidade das relações transatlanticas e consequências do que se escreve, e se diz, numa ingênua tertulia! Temos que prestar mais atenção...
De sobra um jantar magnífico entres três jovens e antigas amigas!Soberbo!Bom Domingo!

roserouge disse...

Incrível, não é? A Claire ficou tão ansiosa para ler o livro que arranjou logo maneira de me convidar para jantar só para lho levar!! E a outra, a Rosário, pendurou-se logo, agora também já quer lê-lo, ontem disse-lhe: tens uma semana para o ler, depois sou eu! Acho que foi um pouco aquela teoria da borboleta que bate as asas aqui e do outro lado do mundo causa uma avalanche...qualquer coisa assim. Mas foi uma noite muito boa, muito calma, muito intimista.

Claire-Françoise Fressynet disse...

Foi mesmo assim, foi muito bom ;-)

Anónimo disse...

Que coisa boa, menina, saber e conseguir expressar esse momento tão íntimo da descoberta, este desabrochar de emoções quando a gente nem pensava que podiam existir.
A descoberta é também um momento de paz e de um olhar mais atento para dentro de nós mesmas, tão distraídas que andamos por tudo que nos rodeia.

roserouge disse...

É isso mesmo, às vezes relacionamo-nos com pessoas anos e anos e nunca chegamos a conhecê-las verdadeiramente. E um dia, de repente, apercebemo-nos de determinadas realidades que sempre ali estiveram e nós não víamos. E não houve alcool à mistura, juro, passámos o resto da noite a água, porque as ameijoas estavam salgadas!

Ví Leardi disse...

Darling Rose...Que coisa mais gostosa,"eu" e "Almodóvar" termos sido o "estopim" para tão delicioso encontro...que pena as distâncias adoraria estar presente e conhecê-las às três...mas ao mesmo tempo distâncias que não mais existem e que tanto acrescentam... pois cá estamos a cada dia nos conhecendo mais...Que prazer!
Fazendo minhas as palavras do Eduardo...deverias escrever mais teus textos são ótimos...beijocas.

Anónimo disse...

E o meu quadro...Onde entrou nisto??? hehehehe...gostei de ver ele ali, queria saber de vcs!!! tannyaleal@gmail.com!!! xau