sábado, fevereiro 28, 2009

Velha Cidade Alface - A Varina

A Varina
"olhó carapaaaaauuuu fresquiiiiiinho!"
É varina, usa chinela,
tem movimentos de gata;
na canastra, a caravela,
no coração, a fragata.

Retrato do Artista Enquanto Jovem - 42ª parte

Não me digam que não conhecem esta que eu não acredito! Já entrou em mais filmes que a Nicole Kidman, já não se aguenta vê-la por todo o lado, caramba! Tem um irmão também actor que era bem giro quando era mais novo, agora está feito um destroço, parece um navio naufragado numa noite de tempestade atirado violentamente contra as rochas. O irmão, ela não. Ela até continua bonita. Engraçado, não sabia que era loura natural, como está sempre a mudar de penteado e cor de cabelo... Quem é, quem é?

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Playing For Change - Peace Through Music


Os fans da chamada “World Music” vão adorar o trabalho de Jonathan Wall e Mark Johnson, “Playing For Change: Peace Through Music”, filme que estreou no 7º Festival Anual de Cinema de Tribeca (NY). É um misto de documentário em formato de concerto global, gravado nas ruas de New Orleans, Barcelona, Africa do Sul, Tibete e outros lugares, o que fez com que os cineastas (Johnson é um produtor e engenheiro de som, já galardoado) viajassem pelo mundo inteiro à procura de músicos de rua que gravassem as suas próprias versões das canções “Stand by Me”, “One World” (Bob Marley), “Don’t Worry”, “Talking ‘bout a Revolution” (Tracy Chapman) e outras. O objectivo deste projecto – que levou à criação duma fundação para ajudar as populações mais desfavorecidas das áreas visitadas – é mostrar em como a música é um elo fundamental de união entre as pessoas, independentemente das suas diferenças culturais. Jonathan Wall e Mark Johnson, com uma câmera e um estúdio de som móvel, filmaram e gravaram as diversas versões da mesma canção tocada e cantada pelos diferentes músicos dos lugares por onde iam passando e o resultado deste magnífico trabalho foi a atribuição do prémio para o melhor documentário no referido festival de cinema.

“Stand By Me” é uma das mais famosas canções da música soul, eternizada por Ben E. King e que foi escrita pelo próprio Ben E. King, Jerry Leiber e Mike Stoller. Esta música foi inspirada numa primeira versão tradicional duma canção Gospel com o mesmo nome, originalmente composta por Charles A. Tindley em 1905, tendo sido gravada por vários artistas, incluindo os “The Staple Singers” de 1955. Em 1961, Ben E. King, Leiber e Stoller re-escreveram a canção dando-lhe um som mais contemporâneo e, desde então, esta canção já conheceu variadíssimas versões mas nenhuma atingiu a popularidade da original. Achei pertinente pôr aqui esta informação completa acerca desta canção porque já ouvi pessoas dizerem que esta canção era do John Lennon...

Velha Cidade Alface - A Telefonista

A Telefonista
"Para onde deseja falar?"

Le Musée Imaginaire

André Malraux selecciona fotografias para Le Musée Imaginaire, c.1947.

Exposição que explora a missão e a história da fotografia, a sua ligação à noção de documento, testemunho e representação histórica, através de 1000 fotografias vintage, centenas de publicações, filmes e documentos datados entre 1851 e 2008 e criados por mais de 250 autores diferentes - desde Lewis Hine a Martha Rosler. De 9 de Março a 3 de Maio.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Velha Cidade Alface - O Calceteiro

O Calceteiro
"De cócoras, em linha, os calceteiros,
com lentidão, terrosos e grosseiros,
calçam de lado a lado a longa rua.”

Retrato do Artista Enquanto Jovem - 41ª parte

E regressemos à normalidade democrática. Parece que esta série deixou saudades durante a última semana de férias. Como podem ver pela foto, este nosso amigo e muito imaginativo blogueiro do hemisfério sul, já em pequeno dava mostras da sua elevada auto-estima e finíssimo sentido de humor. Ai, ninguém me tira um retrato? Tiro, eu... vejam lá se não fiquei giro? Ou já estaria a tirar medidas numa premonição daquilo que viria a ser? Hum?! Que vos parece? Quem é, quem é?

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Das nove, três são mentira...

Mais um desafio, desta vez vem da Claire. Dessas nove afirmações aí em baixo, três são uma mentira descarada...
1 - Uso mini-saia
2 - Já trabalhei para o Governo
3 - Não gosto de sair à noite
4 - Digo palavrões quando me chateiam
5 - Não sei cozinhar
6 - Tenho dois gatos
7 - Devo dinheiro no dentista
8 - Este mês ainda não paguei o cartão de crédito
9 - O banco que espere, primeiro está o dentista
E agora passo a bola a quem a quiser apanhar. Pode ser já para ti, ó expresso!

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Triunfa, Mascarado!

Triunfa, mascarado, entre os demais!
Explora o que de bom há em teus dias
Em folguedos, descantes e orgias…
De teus andrajos faz vestes reais

Promove divertidos arraiais,
Inventa toda a sorte de utopias,
Enterra o baú das arrelias
Que o dia de hoje vai… não volta mais

“MEMENTO, HOMO, QUIA PULVIS ES”!
Salmeará numa antífona plangente
O sacerdote amanhã lá na ermida:

Do pó vieste e pó és outra vez
Quando a Morte, rindo alarvemente
Expulsar desse corpo a doce Vida!

Soneto de António de S.Tiago

domingo, fevereiro 22, 2009

Woodstock Revisited - Programa, Curiosidades, Números

Programa Oficial do Festival Sexta-feira, 15/08/1969
Richie Havens - (17:07H - abertura); Country Joe McDonald; John Sebastian; Swami Satchadinanda; Bert Sommer; Sweetwater - Tim Hardin; Ravi Shankar (concerto interrompido devido à chuva); Melanie; Arlo Guthrie; Joan Baez.

Sábado, 16/08/1969
Quill - (12:15H); Keef Hartly; Santana - Soul Sacrifice; Mountain; Canned Heat; The Incredible String Band; The Grateful Dead; Creedence Clearwater Revival; Janis Joplin.
(madrugada de domingo)
Sly and the Family Stone; The Who; Jefferson Airplane (8:30H).

Domingo, 17/08/1969
Joe Cocker - (14:00H); Country Joe and the Fish; Ten Years After; The Band; Blood, Sweat and Tears.
(madrugada de segunda feira)
Johnny Winter; Crosby, Stills and Nash (and Young); The Paul Butterfield Blues Band; Sha-Na-Na; Jimi Hendrix (8:30H.) (Jimi tocou para as 30 mil pessoas que resistiram até ao final).
Como tudo começou
Originalmente, Woodstock seria realizado na cidade homónima, mas após algumas tentativas de negociação, os administradores locais proibiram o festival na região. À frente da empreitada, quatro jovens na faixa dos 25 anos: John Roberts, Joel Rosenman, Artie Kornfeld e Michael Lang. Inicialmente, a idéia do quarteto era fazer um evento para 100 mil pessoas e que custasse até 500 mil dólares. Depois de fecharem o contrato de 50 mil dólares para o aluguer da fazenda de Max Yasgur – que ficava em Bethel, a 80km de Woodstock – eles perceberam que a dimensão do negócio seria bem maior que o imaginado. Logo no primeiro dia, eles viram que não poderiam controlar o público e abriram os dois portões de entrada, tornando o festival gratuito. No final do evento, Woodstock tinha consumido o equivalente a 2,4 milhões de dólares e recebido cinco vezes mais gente do que o público esperado.
Protestos, incidentes e outros problemas
Mas nem tudo foi “paz e amor” em Woodstock. Além de sexo, drogas e rock and roll, a escassez de comida, água, congestionamentos, filas, chuva, lama e falta de condições sanitárias, foram outros ingredientes do festival. A população das cidades do condado de Sullivan – onde fica Bethel – também não gostou nada da agitação. Os mais exaltados realizaram protestos contra a realização do festival. Num deles, até tiros de espingarda foram disparados para afugentar a multidão que cruzava as cidades da região e engarrafava a rodovia que levava ao local do festival.
Curiosidades
Bilhetes vendidos: 186 mil
Congestionamento próximo ao festival: 27km
Preço de um dormitório (?): 1 dólar
Preço de uma porção de pães ou 1 litro de leite: 10 centavos de dólar.
Salsichas e hambúrgueres consumidos no primeiro dia: 500 mil
Telefones públicos: 60
Contentores de lixo: nenhum
Médicos: 68
Enfermeiras: 36
Pacientes atendidos: 6 mil
Mortes: 3
Nascimentos: 3
Casos de internamento por “viagem com LSD”: 400
Pessoas presas por posse de droga: 133
Largura do palco: 24 metros
Polícias que foram embora do local no primeiro dia do concerto: 346
Pessoas que acamparam: 100 mil
Maior público de Joe Cocker antes de Woodstock: 300 pessoas
Processos legais contra o festival: 80
Cancelamentos
Em três dias de programação, Woodstock reuniu nomes fundamentais da música do final dos anos 60. Do rock ao rhythm’n’blues ou do soul ao folk, o programa apresentava o melhor de uma época. O cardápio seria ainda mais atraente caso alguns artistas não tivessem recusado o convite.
Uma semana antes do festival, o Jeff Beck Group cancelou sua apresentação em Woodstock. Peter Grant, empresário dos Led Zeppelin, recusou o convite alegando que a banda teria mais sucesso na sua própria turnê. Os Doors desistiram porque Jim Morrison achou que sua voz não soaria bem ao ar livre. Os Beatles foram chamados, mas John Lennon disse que só tocaria se a Plastic Ono Band, de Yoko Ono, também fosse convidada. Os canadenses Lighthouse desistiram porque acharam que a participação no evento poderia ser prejudicial para o nome da banda. As bandas Jethro Tull, The Moody Blues, Free e Frank Zappa & The Mothers of Invention recusaram o convite sem maiores explicações.
Os Iron Butterfly foram convidados para tocar, mas a sua apresentação foi cancelada porque o voo atrasou e os músicos ficaram presos no aeroporto, não podendo chegar ao local do festival.
Números
A entrada para os três dias de evento custou 18 dólares; ao todo, foram arrecadados 1,1 milhão de dólares em bilhetes. Desses, 600 mil eram cheques sem fundo. Em função dos tumultos e dos congestionamentos, aproximadamente 4 mil pessoas que tinham bilhete não conseguiram entrar em Woodstock. Em função disso, os produtores foram processados e tiveram que reembolsar as “vítimas”. Woodstock pagou os mais altos cachês da história do rock até então. Os Jefferson Airplane, então a maior sensação psicadélica da época, receberam 12 mil dólares – quando o seu cachê era geralmente de 6 mil. Por sua vez, os Creedence Clearwater Revival levaram 11.500 dólares. Os The Who faturaram 12.500 dólares. Jimi Hendrix teve o cachê mais alto e assinou contrato de 32 mil. Santana, 15 mil dólares. Ao todo, foram gastos 180 mil dólares com o pagamento dos artistas. A gravadora Warner pagou 1 milhão pelos direitos autorais de imagem e som. Lançou um disco triplo e um documentário e facturou 80 milhões de dólares.
A Woodstock Feira de Música e Arte” foi encerrada oficialmente às 10:30H da manhã de segunda feira, 18 de Agosto de 1969.
THE END

Woodstock Revisited - Músicos

Músicos
O que eles disseram
Bob Weir - The Greateful Dead
"Chovia a potes, quando nós tocámos. De cada vez que eu tocava na minha guitarra, apanhava um choque. A corrente passava por mim! Então vi uma faísca azul enorme, do tamanho duma bola de baseball que me fez levantar os pés do chão e atirou-me contra o meu amplificador que estava a uns dois ou três metros de distância. Deve ter sido o pior local onde alguma vez tocámos. A carreira de alguns músicos disparou a partir de Woodstock. Nós passámos anos a tentar remediar a coisa."
Roger Daltrey - The Who
"Toda aquela cena era o caos total. O que nos salvou, foi o nascer do sol. Enquanto eu cantava "See Me, Feel Me", o sol começou a espreitar por trás daquela gente toda. Foi o melhor espectáculo de luzes que alguém alguma vez podia ter tido. Absolutely spot-on. Era como se fosse uma dádiva de Deus. Saímos dali aos gritos em como tinha sido um concerto fantástico. À velha maneira dos Who".
Doug Clifford - Credence Clearwater Revival
"Alugámos um helicóptero e o piloto tinha-nos dito que estavam lá cerca de meio milhão de pessoas, que coisa inacreditável - e nós respondemos, yeah, yeah, right. Quando chegámos e demos a volta por cima duma colina, é que vimos então esta "manta de retalhos de humanidade". Abri a boca de espanto e só consegui dizer: holy shit!"
Paul Kantner - Jefferson Airplane
"Eu tinha tomado um ácido e as minhas pernas entraram pelo palco adentro, até ao chão e dali até ao centro da Terra. Os managers de palco vieram ter comigo e disseram: "Tens que sair daí". E eu olhei para eles e respondi: "Não consigo mexer-me, a sério!"
Joe Cocker
"Cheguei de helicóptero. Saí de lá e conduziram-me directamente para o palco. Só muito depois é que me apercebi que todos os membros da banda tinham tomado ácido e eu era o único gajo que não tinha tomado nada..."

Jimi Hendrix
"Gostei daquela cena da não-violência... a verdadeira essência da música, a aceitação daquela gente que estava ali há tanto tempo à espera. Tinham dormido à chuva e no meio da lama, tinham sido importunados por isto e mais aquilo e mesmo assim saíram dali a falar do sucesso que foi o festival... eles estão cansados dos gangues de rua, estão cansados dos grupos militantes, estão cansados de ouvir a conversa da treta do presidente... Eles querem encontrar uma direcção diferente".
"Ídolo, é o Jimi Hendrix. Eu não sou nada."
Janis Joplin
"De que é que o mundo precisa? - terá perguntado John Lennon.
"Mais Woodstocks!" - terá respondido Janis Joplin.
Revista Mojo Classic - The Ultimate Collectors Edition. (excepto as citações de Janis Joplin)
(continua)

sábado, fevereiro 21, 2009

Woodstock Revisited - Público

Público

Joe P. – Boston, Massachusetts
“Lembro-me de uma multidão de pé concentrada à volta de um gelado, cantando “A comida pertence às pessoas”. O vendedor apossou-se de um machado e saltou para cima dos frigoríficos, num último esforço para salvar o seu gelado. A multidão afastou-se, ele desceu, e o gelado foi…salvo. Um gelado liberto em todo o mundo? Não está muito mal."

Peter T. – Denver, Colorado
“Vinha de Nova York com dois companheiros de 19 anos, quando atraímos a fúria de uns bêbados numa cidade de província em Catskills. Eles começaram a perseguir-nos com um camião, atirando com garrafas de cerveja para o nosso carro e tentando pôr-nos fora da estrada. Depois de uma perseguição feroz, nós embatemos contra uma carrinha que vinha na outra faixa. Quatro carros saíram da auto-estrada, a carrinha ficou virada de pernas para o ar e o nosso carro ficou totalmente destruído. Miraculosamente, ninguém ficou ferido, mas as 500 tabletes de LSD que eu tinha escondido junto ao motor, espalharam-se pela estrada. Arrastando-nos, conseguimos apanhar tudo antes que a polícia chegasse. O resto do caminho até Woodstock, fomos à boleia. Permaneço uma pessoa desalinhada da sociedade. Não tenho nenhum Porsche nem bebo água Perrier. Ocasionalmente, revejo algumas edições da “Rolling Stone” e maravilho-me com o que aconteceu.”

Robert L. – Camden, New Jersey
“Onde é que eu dormi? O que é que eu comi? O que é que aconteceu aos meus sapatos?”
Adam J./Joe F. – Baltimore, Maryland
“Fomos a Woodstock com o nosso melhor amigo, Jeff Hoffman. Enquanto ouvíamos Crosby, Stills and Nash, Jeff foi à nossa tenda buscar comida. Esta foi a última vez que o vimos. Desde então, temos tentado encontrá-lo.”
John K. – Washington DC
“Quando eu tinha doze anos fui ao festival de Woodstock, onde um homem nu e muito estranho veio por detrás de mim, agarrou-me pelo cinto e arrastou-me para trás do palco enquanto o povo de Woodstock observava. Na altura, foi tudo muito estranho. Hoje, chamamos a isso teatro.”
Barbara B. – Atlanta, Georgia
“Não me lembro de muita coisa, já se passou há muito tempo e nós estávamos todos pedrados. Mas os detalhes não são tão importantes como o facto de lá ter estado. É como fazer parte de um clube.”
Carole G. – Columbus, Ohio
“Adorei toda a gente e todos me adoraram – uma grande sensação para alguém como eu que era a filha indesejada de pais autoritários. Quando regressei “ao lar”, descobri que estava grávida. Aaron, o meu filho, nasceu a 6 de Maio de 1970. Hoje, trabalho numa fábrica, dobrando roupa. Descobri um mundo demasiado frio e cruel. Tudo o que eu tenho de bonito na minha vida é o meu filho e a recordação daqueles três dias.”
Gary B. – New Haven, Connecticut
Eu e o Dean fomos para o campo logo no primeiro dia. Só lá estavam umas dezenas de pessoas. Deitei para dormir uma soneca sob o sol de Verão. Acordei com os empurrões das pessoas. Pensei que isto era uma grande falta de educação até que, ao levantar a cabeça, deparei com um oceano de corpos. Enquanto eu dormia, milhares de pessoas encheram o campo.
Lembro-me de andar pelos bosques onde as obras de arte e de artesanato eram feitas e vendidas, a par das drogas que se quisesse. Em Groovy Way, vimos um homem nu segurando malas de comprimidos para venda. Perguntei ao meu companheiro se tinha notado algo estranho no homem e Dean respondeu: “Sim, ele tinha uns sapatos de ténis”.
Debra B. – Nokomis, Florida
“Foste ao Woodstock? Uauu!...Para que serviu o Woodstock?”- perguntou-me uma jovem durante o Live Aid de 1985.”
(continua)

Woodstock Revisited - Arlo Guthrie

Arlo Guthrie
“Eu estava admirado com a imensidão do que estava a acontecer. Era muito mais do que um grande concerto. Tínhamos a consciência de que um acontecimento histórico estava em movimento, o que era raro. Acho que quem lá esteve e quem não esteve se apercebeu disso instantaneamente e era isso que era tão excitante.

Naquele tempo havia pessoas a serem mortas nas ruas dos Estados Unidos pela polícia e pela Guarda Nacional. Naquele tempo era perigoso para gente com o nosso aspecto reunir-se em grandes grupos. Talvez fôssemos um pouco inocentes e ingénuos acerca de quem nós éramos e do que estávamos a fazer, mas Woodstock não foi certamente só uma coisa divertida para fazer. O facto de haver pessoas a fumar droga tornou-se insignificante para a polícia que estava muito mais preocupada com outras coisas e isso estava muito mais próximo da maneira como nós achávamos que deveria ser. Nesse sentido, encontrámo-nos por um momento vencedores e essa pequena vitória tornou-se um símbolo para o resto do mundo.

O filme do Woodstock saiu no mesmo ano do “Alice’s Restaurant”. Havia muita gente que não era nascida nessa altura e “Alice’s Restaurant” não significava nada para eles (N.R. – Arlo Guthrie participou e compôs a música desse filme). Mas o facto de eu ter estado em Woodstock é significativo para eles. Uma coisa como aquele festival não vai tornar a acontecer. Houve quem tentasse a repetição imediatamente a seguir a Woodstock. Os promotores diziam, “Meu Deus, nós podíamos ganhar dinheiro com uma coisa destas.” Nunca resultou. Altamont foi o que aconteceu.
Ao longo dos anos, fartei-me de ouvir gente dizer que Woodstock não tinha tido importância, que as pessoas o tinham sobrestimado, mas alguma coisa deve ter acontecido ou nós não estaríamos a falar disso 20 anos depois. Pode-se ver a marca Woodstock nas calças de ganga ou nos sabonetes mas esse símbolo ninguém nos pode tirar. Nem o marketing o pode adulterar”.
(continua)

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Woodstock Revisited - Melanie Safka

Melanie Safka
“Foi mágico. Nunca na minha vida tinha actuado para tanta gente. Logo que cheguei tive a minha primeira experiência transcendental. Fiquei aterrorizada, tive que sair. Comecei a atravessar o estrado e senti que o meu espírito se separava do meu corpo. Observei-me a avançar para o palco, sentar-me e cantar algumas estrofes. E quando senti que estava a salvo, regressei.

Começou a chover mesmo antes de eu entrar em cena. Ravi Shankar tinha terminado e o apresentador do espectáculo disse que se o público acendesse os isqueiros, talvez a chuva parasse. Quando acabei de cantar toda a colina estava repleta de pequeninas luzes. Creio que foi uma das razões porque regressei ao meu corpo.

Passado um ano, sempre que cantava “Candles in the Rain”, a canção que compus sobre Woodstock, as pessoas começavam a acender isqueiros e isto pegou de tal forma que comecei a ter problemas com os bombeiros, pois estes não aprovavam os meus concertos chegando mesmo a proíbi-los. De facto, não me deixaram actuar em New Jersey durante vários anos pois diziam que eram festivais de música e, nesse estado, os festivais não estavam autorizados.

Hoje em dia, para quem não esteve em Woodstock, ouvir falar deste acontecimento deve ser como ouvir histórias do tempo da guerra. Foi uma experiência espantosa ter lá estado, ser jovem naquela época e viver no meio de um grupo de pessoas que se conheciam umas às outras como se fossem uma única família. Woodstock foi a prova de que éramos parte integrante uns dos outros, de que a vida era mais do que obedecermos aos nossos pais e de que nunca nos deveríamos ter envolvido na guerra do Vietname.”

"As minhas recordações de Woodstock não são assim muito boas. Excepto pelo facto de ter estado a trabalhar com o engenheiro/produtor Eddie Kramer na mistura do disco "Woodstock" e a coisa ter corrido muito bem. Lembro-me de ter andado por ali nos bastidores, na tenda de John Sebastian e ter-me apercebido que ali ninguém alguma vez tinha visto a nossa banda tocar. E estou a falar dos Greateful Dead, dos Band, Richie Havens, Santana. Eles tinham gostado do disco "Crosby, Stills & Nash" e disseram: "Bem, mostra-nos lá então o que sabes fazer. Vai lá."
Graham Nash
Revista Mojo Classic - The Ultimate Collectors Edition
(continua)

Janis Joplin - Summertime

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Woodstock Revisited - Carlos Santana

Carlos Santana
“Foi um pouco assustador ir até lá e mergulhar naquele oceano de cabelos, dentes, olhos e braços. Nunca esquecerei o som da música chocando contra aqueles corpos. Nunca se esquece aquele som.
Para a banda, no seu conjunto, foi óptimo. Mas eu procurava lutar por me manter pegado ao terreno, porque tinha tomado uns produtos psicadélicos bastante fortes antes de entrar em palco. Tínhamos chegado por volta das onze da manhã e disseram-nos que não íamos tocar antes das oito. Por isso pensei “hey, acho que vou tomar uns psicadélicos e quando aquilo começar a baixar deve estar na altura de entrar em palco e vou sentir-me bem”. Mas quando eu estava no alto, por volta das duas da tarde, alguém nos veio dizer “se não entrarem agora, já não entram”.
Andámos por ali durante toda essa noite e fui testemunha do auge do festival, que foi Sly Stone. Acho que ele nunca voltou a tocar assim tão bem – saía literalmente fumo do seu som Afro. Musicalmente, porém, Altamont foi melhor que Woodstock. Lamento que tenha ficado gente magoada, mas tenho de dizer que toda a gente tocou de um modo incrível em Altamont – os Greatfull Dead, os Jefferson Airplane, nós próprios.

Woodstock tinha mais uma vibração espiritual, foi mais uma celebração espiritual. Woodstock significava a reunião conjunta de todas as tribos. Tornou-se evidente que havia muita gente que não queria ir para o Vietname, cujos pontos de vista não coincidiam com os de Nixon nem com nada daquele sistema.
As pessoas que iniciaram o movimento hippie em Haight-Ashbury ensinaram-me a diferença entre negócios e ideais, entre artistas e fraudes. Eles não eram falsos, com aquela gente que usava perucas nos anúncios de velhos êxitos dos anos sessenta. As pessoas a sério eram maravilhosas. Podiam ver-se índios americanos e gente de pele branca apaixonados pela vida. Woodstock era parte disso. Era o mesmo movimento que tirou as pessoas do Vietname e que tirou Nixon do poder.

Houve quem lhe chamasse “área sinistrada”, mas eu não vi ninguém num estado que justificasse essa expressão. Vi muita gente reunida, partilhando tudo e passando um bom bocado. Se isso foi estar fora de controlo, então a América precisa de se descontrolar pelo menos uma vez por semana. Talvez eu seja demasiado ingénuo, mas vejo as coisas assim. Vi imensos estímulos positivos para a América, estímulos artísticos, criativos. Nos anos sessenta as pessoas não iam aos concertos para se embebedarem e engatarem umas miúdas; iam lá para serem bombardeados com música e transportados para outro lado qualquer. Quando saíamos, sabíamos que nunca mais voltaríamos a ser os mesmos. Não se ia a um concerto para evasão. Ia-se a um concerto para expansão.
Muitas das fraudes artísticas na América transformaram a música rock numa espécie de música da corporação Gap-McDonald’s. Ouve-se a mesma treta em todos os centros comerciais. É tudo uma sopa de pacote, em vez de sopa caldosa, percebem? Precisamos de mais Jimi Hendrixs e Jim Morrissons. Precisamos de mais rebeldes e renegados.

Quanto ao filme, não gosto das lentes olho-de-peixe que me tornaram parecido com um escaravelho, mas no fundo estou muito grato. Estou sempre a falar à minha mulher da bênção de possuirmos um monte de recordações e de um vídeo para as suportar. Fundamentalmente, estou muito grato pela oportunidade de ter podido tocar em Woodstock. Podia estar ainda em Tijuana, sem papéis, do outro lado da fronteira.”
(continua)

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Particularidades

Respondendo ao desafio do Jorge do expressodalinha aqui deixo seis das minhas características/particularidades. Depois disto, o Obama vai pedir-me para ser sua conselheira.
1 - Sou uma mulher difícil (dizem);
2 - Não gosto de me levantar de manhã cedo, a não ser que seja para ir passear;
3 - Nunca tenho pressa;
4 - Sou preguiçosa e vaidosa;
5 - Não deixo que se enfiem dentro do meu cérebro, mas sei ser flexível quando me interessa;
6 - Gosto da Primavera, do Verão, do Outono e do Inverno; vento e nevoeiro, é que não.

Não sei a quem passar este desafio, acho que já todos os que conheço responderam, mas lá vai: Georgia do Saia Justa, Serena do Serena Flor, Silvares do 100Cabeças, José Louro da Janela de Alberti, Paulo Lontro do Lontrices.

Woodstock Revisited - Country Joe McDonald

Country Joe McDonald
"Desci de um avião com Peggy, o namorado de Janis Joplin na altura. Penso que o meu grupo, os "The Fish”, já lá estava. Recordo ter ficado muito motivado para subir ao palco e ver o que se estava a passar. No caminho parecia que era um grande festival, mas não o maior, até que se viu o público. Para usar a linguagem da época, a minha cabeça saltou. Tornei-me um místico acerca da minha actuação a solo em Woodstock. Penso que estava destinado para o fazer. Eu andava sem nada para fazer, a ocupar o tempo cantando algumas canções country e folk. Então toquei “Feel-like-i’m-fixin’-to-die-rag – a saudação “F-U-C-K” – e o resto é história. Da primeira vez que responderam a “dêem-me um F”, quando finalmente pararam de falar, olharam para mim e gritaram “F”, eu soube que já não se voltaria atrás.
Quando falhou a electricidade, os miúdos ficaram chateados. Depois de se participar em espectáculos ao vivo aprende-se que as pessoas respondem a qualquer tipo de barulho. Então batemos em tudo o que tínhamos à mão, incluindo tachos e panelas. Cantámos “No More Rain” e tocámos chocalhos e a audiência agarrou isso e respondeu. Depois tivemos a ideia de lhes atirar bebidas. Atirámos latas cheias e atingimos alguns na cabeça. Eles chatearam-se e começaram a atirá-las de volta.

Eu andei pelo meio da multidão e fui à Quinta Hog, onde serviam comida. Era uma multidão muito feliz. Eu não sabia da existência de drogas duras como opiáceos e cocaína. Havia haxixe e psicadélicas, mas nenhuma das drogas que fazem as pessoas tornarem-se violentas e anti-sociais. Todo o ritual de tomar drogas era amigável e cordial. Demasiadas pessoas lêem significados políticos e sociais sérios no que estava a acontecer, muito além da sua importância. Eu penso que Woodstock, seja qual for o ângulo de análise, foi um encontro inocente.
Mas foi um acontecimento muito importante, porque havia muitas espécies de música num único festival. E isso era invulgar porque havia uma larga audiência para tantos grupos novos. Era a New Wave desse tempo. Eu percebi, no final dos anos 70 e princípio dos anos 80, que Woodstock tinha produzido alguns novos monstros da música. Os miúdos tocavam cada faixa do LP “Woodstock” da mesma forma que aprendem as músicas de um álbum de um grupo. E todos os que podiam assimilar esses diferentes estilos tinham de ser grandes músicos, uma geração de músicos melhores que os de Woodstock. O “establishment” não poderia ter produzido o festival de música de Woodstock. Eles não sabiam mexer em sistemas de som como aqueles. Eles não sabiam o que eram espectáculos de luz e som. A geração de Frank Sinatra não poderia ter realizado o festival de música de Woodstock."

"Eu não estava preparado para continuar. Eu pensei que me conseguiria escapar se dissesse que não tinha guitarra. Então eles foram não sei onde e trouxeram-me uma porcaria duma guitarra. E eu disse, bem, não tenho correia para a guitarra, não posso tocar assim. E então trouxeram um bocado de corda e ataram aquilo à guitarra. E eu disse, não tenho palheta, e eles trouxeram-me um bocado de cartão e disseram: "Toca com isso". Resmunguei qualquer coisa e lá fui eu."
Country Joe McDonald
Revista Mojo Classic - The Ultimate Collectors Edition
(continua)

MOJO Classic - The Ultimate Collectors Edition

Há um par de horas atrás, ao entrar numa Livraria Bulhosa, fui acometida por um súbito ataque de insanidade mental que me levou a cometer uma imprudência: ao dar de caras com esta revista, comecei a ler a capa, passei os olhos lá por dentro, fiquei logo ali cheia de nervos e tive que a comprar. É toda dedicada ao ano 1969 e adivinhem lá, adivinhem lá qual é um dos destaques, qual é, qual é? Pois é...nem de propósito com o espírito deste blog esta semana...É claro que vou ter uma tra-ba-lhei-ra imensa a traduzir algumas coisas, vai ser aquele sa-cri-fí-cio, mas enfim, tudo por vossa causa, claro, não vou deixar-vos pendurados, isso é que não! Quer-me cá parecer que as publicações do género estão a começar as comemorações do Woodstock e imagino que mais coisas virão por aí, a Rolling Stone e a Uncut também devem fazer umas "special edition" e eu vou estar de olhos arregalados e garras afiadas. E dinheiro na carteira, espero. Se calhar, vou passar fome. Ora que se lixe, como pão e laranjas, também é bom. Comer muito faz mal...

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Woodstock Revisited - Richie Havens

Richie Havens
“Pensei: “Meu Deus, eles vão-me matar. Não vou enfrentar o palco sozinho! O quê? Estão malucos?” era uma sexta – feira à tarde, por volta das 15 horas e o concerto estava atrasado quase três horas. Eu deveria ser o quinto na ordem do programa; os outros artistas tinham ficado no hotel a cerca de 11 quilómetros dali. Pensei: “Eles vão atirar-me com latas de cerveja e tudo porque o espectáculo já ultrapassou a hora marcada”. Então, fiz um pouco de conversa mole e estive praticamente três horas sentado até que finalmente alguns dos outros resolveram aparecer.
O meu baixista, Eric Oxendine, tinha sido apanhado pelo trânsito na New York State Thruway. Ele tinha abandonado o carro a cerca de 49 quilómetros e vindo todo esse caminho a pé. Quando chegou, já tínhamos actuado. No momento em que saímos, deixando para trás o festival, não havia na estrada nenhum outro automóvel além do nosso. Havia por volta de 121 quilómetros de carros estacionados em fila. Foi a coisa mais surrealista que jamais vi na minha vida.

A minha recordação mais precisa foi o ter-me apercebido de que o que eu estava a presenciar naquele momento era algo que nunca imaginara: uma assembleia em sintonia. E, acreditem-me, ninguém gostaria de estar num lugar daqueles a abarrotar de gente se não se tratasse de um grande número de pessoas na mesma onda. Foi a expressão primeira da primeira geração unida pelo mesmo objectivo nascida neste planeta. O Live Aid foi um filho de Woodstock, uma criança de Woodstock, a que eu chamei Globalstock.
A história de estarmos todos uns com os outros, numa boa, é interessante. No início, não se tratava apenas da música, mas de algo como “vamos todos para o parque comer guloseimas e estar uns com os outros”. Daí, partiu-se para o Festival Pop de Monterey – um concerto gratuito realizado em 1967 – depois veio a ideia de “tentemos fazer uma coisa destas, mas também ganhar algum dinheiro”. No entanto, isso nunca aconteceu. Woodstock tornou-se no mais universal e no maior momento de confraternização casual a que eu chamo o “Acidente Cósmico”. Totalmente inesperado.

Os organizadores pensaram que se fosse como o Monterey Pop – que reuniu 50 a 60 mil pessoas – eles se encheriam de dinheiro. Contudo, estiveram na primeira tarde do festival cerca de 400 mil pessoas. Se alguém conseguiu um bom lucro foi a Warner Bros., com os direitos de filmagem. O mérito de Woodstock ser amor, paz e harmonia acabou por assentar nos pilares do “vamos ganhar dinheiro”. No princípio foi assim. O conhecimento das coisas veio depois.
O filme registou isso e nem sequer ligou muito à música. Viam-se alguns dos artistas a tocar uma ou outra música, mas nem metade dos que actuaram. Não foi, por isso, uma descrição do que se passou no palco, mas apercebemo-nos do que membros da geração mais velha, como chefes de Polícia que diziam: “Deixem os miúdos em paz, eles são bestiais e não estão a maçar ninguém”. Para as pessoas que estiveram lá, a música não foi o mais importante.

Woodstock não foi só sexo, drogas e rock‘n’roll. Graças a Deus pela música, porque quem a pôde ouvir, apercebeu-se do espírito que uniu toda aquela assembleia, o espírito das pessoas serem apenas pessoas.”
(continua)