Quinta-feira à tarde. O telefone toca. Alô, pequena? Era a minha amiga Paula. Oi, tás boa? Tou e tu? Também, que contas? Queres ir logo à noite àquele bar irlandês ali no Cais do Sodré, o O'Gilins? O Flappy vai lá tocar e vai o pessoal todo. Ah, boa boa, aonde e a que horas? Combinámos a hora, apanhei-a em casa e lá fomos todas contentinhas para a night. O bar não é muito grande e já estava a abarrotar quando chegámos. A única mesa que havia livre era mesmo a mais perto do palco, (palco é como quem diz...) ou seja, do pequeno estrado onde os músicos tocam e deixaram-nos ficar ali mesmo. Assim que nos sentámos e antes de mandar vir duas Guiness pequenas, reparei que na mesa ao lado, estava um pequeno grupo de irlandeses particularmente barulhentos. E já muito bêbados. Eram cerca de 6 ou 7 pessoas, com pouco mais de 20 anos. Não consigo perceber porque raio é que os irlandeses só procuram bares irlandeses quando estão fora do país deles. E é assim em qualquer parte do mundo. Onde há um bar irlandês, tem de certeza irlandeses bezanas lá dentro a dar a conhecer ao mundo o folclore celta. Os músicos, Alexandre Simões no sax e flauta (o tal Flappy, que é amigo do pessoal da av. de roma) a Margarida (não me lembro do apelido) na voz e o João Rato nas teclas, começaram a instalar-se cada um no seu canto. O Vítor, o Luís, a Joana e o Moisés chegam pouco depois e notam imediatamente que daquela mesa ali do lado vem uma barulheira insuportável. Fazemos alguns comentários entre nós, cabrões dos irlandeses que não se calam, e venham mais umas cervejas que a malta está cheia de sede. Começa a chegar o pessoal da Av. de Roma, o Pedro, o Nica, a Marta, o Bernardo e trazem atrelado um norueguês que ninguém sabe muito bem quem é nem donde vem, mas que anda sempre com eles para todo o lado e ainda por cima tem um nome impronunciável. O tipo é gigantesco, tem cerca de 50 anos, ri-se muito, não fala mas também não chateia. O inglês dele é péssimo e o português vou-te contar. A gente pergunta "Tudo bem? Ele responde: tudo bem". Pronto, já conversámos tudo. Bate palmas com as mãos todas esticadas como se fossem duas espátulas. Diz a lenda que é um antigo professor reformado que resolveu instalar-se em Lisboa. Mas ninguém sabe muito bem. Tratei logo de lhe chamar "Leif Eriksson", ficou resolvido o assunto.
Na mesa dos irlandeses, a chinfrineira continua. O pior deles todos é uma miúda que guincha desalmadamente, de tal forma que, segundo um dos meus amigos, se ouvia nas casas de banho, que ficam ao fundo do bar. Os músicos começam a tocar. Alguns clientes atrevem-se a soltar uns tímidos shiuuuu, mas a coisa não resulta. Começo a sentir o sangue a aquecer. Chamo a empregada e pergunto-lhe se ela não se importa de lhes pedir por favor para falarem mais baixo. Ela responde que não pode fazer isso porque não seria ético da parte dela. Então e se for eu a falar com eles?, pergunto eu. Resposta dela: pode fazê-lo se quiser, mas não vai resultar. E o sangue a subir de temperatura...
A esta hora já os meus amigos (uns queridos) me tinham começado a envenenar. Eh, pá ó Bé, manda lá aí calar os gajos... enfia-lhe uma rolha na boca, irlandesa chungosa... pago-te uma cerveja no Lux... não és mulher nem és nada... vá lá ! Chega o Ricardo, a quem carinhosamente chamamos "o nosso Hércules", devido à sua imponente compleição física - 1,65m por 55 kg ou coisa assim - e a primeira coisa que diz é: quésta merda? Estava a referir-se à mesa do lado, claro. Os músicos continuavam a tocar, mas manifestamente incomodados. E a algazarra continuava. E a waltzing mathilda continuava a guinchar mais alto que os outros. Parecia um porco em dia de matança. E todo o bar dizia shiuuuuu mas ninguém fazia nada. Ó Bé, põe ordem nesses gajos! Porquê eu? Porque a gente gosta de te ver irritada. Isto é coisa que se diga a uma amiga? E o sangue a entrar em ebulição. Ó pequena, traga-me mais uma imperialzinha, fachavor, a ver se isto acalma...
E o Flappy soprava no sax, o João acariciava as teclas e a Margarida (excelente voz) cantava. Vindo do Eire ali mesmo ao lado, o desrespeito por quem estava a trabalhar e a manifestar-se artisticamente era notório. Às tantas passei-me, o sangue ferveu mesmo e começam a sair anéis de fumo do meu nariz. Saltou-me a tampa. Inclinei-me sobre a mesa dos celtas, olhei a waltzing mathilda olhos no olhos, encostei o meu nariz fumegante ao nariz dela e disse-lhe: "The musicians are playing. Show some RESPECT. Shut the fuck up, pleeeeaaaaase!" Resposta dela: "ooooooohhhh, ok, ok. I'm sorry, I'm so sorry. Won't happen again". Baixaram instantaneamente o tom de voz e até já batiam palminhas e tudo. Dez minutos depois pegaram nos casacos e desapareceram, para alívio dos presentes. Às vezes não consigo perceber mesmo a natureza humana. Seremos todos cães a precisar da voz do dono? Para alguns de nós, a noite acabou no Lux.
7 comentários:
Rsrsrsrsrsr
Hilariante!!!
Que riso, quase que vi o filme sem lá estar :)
Beijos e boa semana!
Uma irlandesa a guinchar desalmadamente ? Não me parece mal...
E então, tu... não tinhas aguentado tanto... rsrsrs
Menina, vc é maluca??? Claro que te entendo, e tb tenho o sangue quente, não suporto muito o descaso e o tanto de pessoas que não nos respeitam e assim se esbanjam nos seus direitos, trazendo transtorno aos outros. Isto é demais, mas nos dias de hoje, todo cuidado é pouco!
Mas na verdade adorei seu inglês em cima deles, e foi o suficiente para que eles se calessem, maravilha, ainda de presente foram embora, beber em casa ou em outro bar da raça deles. kkkkkkkkkkkkk
Agora, o que eu mais gostei e ri muito, foi de vc falar sobre o amigo norueguês, que bate palmas com mãos de espátula, e que é impronunciavel seu nome, e tudo o mais... Cara, é muito engraçado tudo o que narrou por aqui. maravilha! Mas se cuida, tá?
Esquentadinha hahahahahahahahah
bjus CON
Os sítios por onde tu andas, pequena. Olha, eu vou ali e já venho...
Gosto muito do O'Gilins. E adoro quando lá estão irlandeses verdadeiros a tocar. É uma festa, o bar inteiro a imitar os Riverdance...rsrsrs
Deixa que te diga,minha querida BÉ (e vou falar sério, toma bem nota!):
Claro que a cena foi de estalar.
Mas, porque raio não tentas escrever uma crónica na VISÃO ou na SÁBADO?
Tenho lido coisas tuas que são o máximo. Olha, menina, vou ser franco, mesmo franco à brava: O MEC, no PÚBLICO, que se cuide.
Conheces a coluneca dele (é 1/4 de coluna, não estou a insultar ninguém!) ?
Mostra o que escreves ao JMF ou aos Directores das revistas acima (O RAP, na VISÃO, não é melhor do que tu e ganha uma pipa com euros lá dentro).
Com um beijo do teu afilhado preferido. (Não tens mais nenhum, pois não?).
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