Foto de Raul Barbosa, meu cunhado e irmão do saudoso Roberto.
Esta pequena aqui à esquerda, sou eu no esplendor dos meus 25 anos. A bébé ao meu colo, é a minha única filha, Cristiana, no vigor dos seus oito meses de idade. Como podem reparar pelo ar sizudo da pecanita, rir não era muito com ela. Comia bem, dormia melhor ainda, fazia xixi, cócó, não fazia birras, nunca me deu uma noite sem dormir (desde que nasceu), brincava muito sózinha com os seus brinquedos, mas rir... nada. Ou quase nada. Eu bem me esforçava a fazer palhaçadas, cutchi cutchi, gugu dádá e outros disparates, mas a pequena nada de mostrar os dentinhos. E era assim com toda a gente. Havia, porém, uma excepção: a padeira. A senhora da padaria onde eu ia todos os dias comprar o pãozinho lá para casa. Naquela época, morávamos numa terreola ali na margem sul, mesmo ao pé do Fogueteiro. Hoje em dia, cada vez que me lembro que já vivi na margem sul, até me vomito toda. Mas adiante. E então lá ia eu com a pequena no carrinho (fiquei em casa com ela, só foi para o infantário com três anos) dar um passeio matinal e comprar pão. O pão que consumíamos lá em casa - eu e o meu marido - eram seis carcaças por dia (carcaça é um pão pequeno, ideal para fazer sanduíches). Assim que entrávamos na padaria a Dona Não Sei Quantas - não me lembro já do nome da senhora - inclinava-se sobre o balcão e começava a falar com a miúda. E olha, era vê-la a arreganhar-se toda, a mostrar as gengivas e os dentinhos que entretanto foram aparecendo e a gesticular, a dar aos pézinhos e às mãozinhas toda contentinha como se tivesse visto a Nossa Senhora! Eu ficava para morrer! Quéquéisto? Então para mim, que sou a mãe, nunca se ri e assim que entra aqui abre logo a boca toda?! E a Dona Não Sei Quantas respondia: ah, é porque ela gosta de mim! Então e eu, que sou a mãe?! E a gente ria-se e tal mas a bem dizer, comecei a ficar incomodada com aquilo, cheiínha de ciúmes. Um dia entrei e só lá estava a filha da senhora, uma miúda dos seus sete ou oito anos. A tua mãezinha não está? Está sim, está ali a conversar com uma senhora. Então, se não te importas vai lá chamá-la, por favor, estou com um bocadinho de pressa, tá bem? A miúda saíu e quando voltou trazia a mãe atrás (a padeira) que olhou para mim e disse: "Ah, é a menina das seis carcaças, a minha filha não sabia dizer quem era..." Parou tudo. Desculpe?! A menina das seis carcaças? A menina das...!? Ah não, essa não! Quer dizer, para além de ser a única que recebia os sorrisos da minha filha ainda me chamava "menina das seis carcaças"? Pois, aquilo não me caíu lá assim muito bem, não. Gruuumpfff... Fiz birra e com o tempo, deixei de lá ir. Há mais padarias na terra. Ora, não querem lá ver!...
A Cristiana tem hoje 23 anos e ri-se por tudo e por nada. Ainda bem, fico muito contente por isso. E adora que eu lhe conte estas histórias de quando era bébé e das quais, obviamente, não tem memória. Mas diz que se lembra da padeira. Só pode ser para me chatear...
21 comentários:
Brilhantemente contada esta história da vida de uma mãe, contada pela desinfeliz protagonista!
Qual era a nota máxima no teu tempo?
Ainda era o 20 ?
ou o 10 ?
ou o 5 ?
Bom, não importa, pois hoje(mas só hoje) dou-te a nota máxima com DISTINÇÃO !
É engraçado como me fazes lembrar aqueles contos de praia (e não só) escritos por um aluno(?) ou amigo do teu cunhado...
Maravilhosa história, pura literatura! Parabéns pelo texto.
Olha, tens ali ao cantinho uma amostra de varal !!!
Bebi as tuas palavras :) depois de um dia duro de reuniões de trabalho soube bem chegar aqui:) Merci!
Parabéns à menina das seis carcaças...
ADOREI , storia/foto/memorias...
beijo grande
Gosto muito quando contas as suas histórias! Imagem do irmão do GRANDE ROBERTO?
Parabéns pela postagem! Continue contando!
RR
Vês, até o EDUARDO concorda com o que te disse há dois dias!
Não te cortes.
Claire, lembrei-me agora de repente, tu também lá estavas, estávamos lá todos, foi uma baita sardinhada em casa dos Ruas, lá na Lagoa, lembras-te? As crianças todas tão pequeninas, o Sebastião, a Rita, a Cris e o Simão...os outros ainda não existiam...rsrs
Eduardo, essa foto foi tirada pelo meu cunhado Raul, irmão do falecido Roberto. O Raul também é fotógrafo, sim e trabalha em cinema.
lindas
Bé,
então... você foi casada com o Roberto? E ele é o pai da sua filha?
Não, eu fui casada com o irmão da mulher do Raul. Eu explico: a mulher do Raul chama-se Bela. O irmão da Bela chamava-se Pedro. Foi com o Pedro que eu casei em 1983. A Cristiana é filha dele, nasceu em Outubro de 1985.
ahahaha!
Mas quem não ri com a padeira? Eu de certo ria e meu irmao também! A gente ia na padaria da esquina de casa eu com uns doze anos e meu irmao que mais queria pular do que andar com seus seis aninhos e a gente sempre se divertia com O padeiro! Agora como bebê não sei... Acho uma delicia essas historias pessoas...
LINDA VOCÊ BÉ! LINDA LINDA LINDA!
oooooooooooooooooooohhhhhh Alice, obrigada crida...aqui a embalagem já conheceu melhores dias, pois já...mas ainda gasta solas de sapato, tá bem?!
E quem duvida, madrinha?
Com estes duas personagens a história só podia ser linda. Malta do rock é assim. Absolutamente demais, como diz o Caetano. Parabéns à mãe e à filha.
Bé,
agora captei. Quando vc disse meu cunhado, irmão do Roberto, me pareceu que pudesse ser outra coisa! Mas esta explicado.
Eu tenho enorme admiração pelas imgens fotográficas do Roberto! As do Raul, não conheço, além dessa!
O Raul também faz fotos fabulosas, o Jorge pode confirmar. Não sei se ele se lembra de me ter tirado esta...
Bela história. Tu ainda acabas a escrever!
OLHA, OLHA OUTRO A DIZER O MESMO !
Confirma ao EXPRESSO O QUE ANDO A DIZER...
Beijo.
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