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quarta-feira, abril 22, 2009

A Padeira do Fogueteiro

Lagoa de Albufeira - Junho 1986
Foto de Raul Barbosa, meu cunhado e irmão do saudoso Roberto.
Esta pequena aqui à esquerda, sou eu no esplendor dos meus 25 anos. A bébé ao meu colo, é a minha única filha, Cristiana, no vigor dos seus oito meses de idade. Como podem reparar pelo ar sizudo da pecanita, rir não era muito com ela. Comia bem, dormia melhor ainda, fazia xixi, cócó, não fazia birras, nunca me deu uma noite sem dormir (desde que nasceu), brincava muito sózinha com os seus brinquedos, mas rir... nada. Ou quase nada. Eu bem me esforçava a fazer palhaçadas, cutchi cutchi, gugu dádá e outros disparates, mas a pequena nada de mostrar os dentinhos. E era assim com toda a gente. Havia, porém, uma excepção: a padeira. A senhora da padaria onde eu ia todos os dias comprar o pãozinho lá para casa. Naquela época, morávamos numa terreola ali na margem sul, mesmo ao pé do Fogueteiro. Hoje em dia, cada vez que me lembro que já vivi na margem sul, até me vomito toda. Mas adiante. E então lá ia eu com a pequena no carrinho (fiquei em casa com ela, só foi para o infantário com três anos) dar um passeio matinal e comprar pão. O pão que consumíamos lá em casa - eu e o meu marido - eram seis carcaças por dia (carcaça é um pão pequeno, ideal para fazer sanduíches). Assim que entrávamos na padaria a Dona Não Sei Quantas - não me lembro já do nome da senhora - inclinava-se sobre o balcão e começava a falar com a miúda. E olha, era vê-la a arreganhar-se toda, a mostrar as gengivas e os dentinhos que entretanto foram aparecendo e a gesticular, a dar aos pézinhos e às mãozinhas toda contentinha como se tivesse visto a Nossa Senhora! Eu ficava para morrer! Quéquéisto? Então para mim, que sou a mãe, nunca se ri e assim que entra aqui abre logo a boca toda?! E a Dona Não Sei Quantas respondia: ah, é porque ela gosta de mim! Então e eu, que sou a mãe?! E a gente ria-se e tal mas a bem dizer, comecei a ficar incomodada com aquilo, cheiínha de ciúmes. Um dia entrei e só lá estava a filha da senhora, uma miúda dos seus sete ou oito anos. A tua mãezinha não está? Está sim, está ali a conversar com uma senhora. Então, se não te importas vai lá chamá-la, por favor, estou com um bocadinho de pressa, tá bem? A miúda saíu e quando voltou trazia a mãe atrás (a padeira) que olhou para mim e disse: "Ah, é a menina das seis carcaças, a minha filha não sabia dizer quem era..." Parou tudo. Desculpe?! A menina das seis carcaças? A menina das...!? Ah não, essa não! Quer dizer, para além de ser a única que recebia os sorrisos da minha filha ainda me chamava "menina das seis carcaças"? Pois, aquilo não me caíu lá assim muito bem, não. Gruuumpfff... Fiz birra e com o tempo, deixei de lá ir. Há mais padarias na terra. Ora, não querem lá ver!...
A Cristiana tem hoje 23 anos e ri-se por tudo e por nada. Ainda bem, fico muito contente por isso. E adora que eu lhe conte estas histórias de quando era bébé e das quais, obviamente, não tem memória. Mas diz que se lembra da padeira. Só pode ser para me chatear...

segunda-feira, março 16, 2009

Um Domingo Na Praia

Moçambique - Lourenço Marques, Praia do Dragão 1965/66.
Lembro-me perfeitamente do momento em que esta fotografia foi tirada. Era domingo e a família Cunha foi à praia, aproveitando uma das folgas que o meu pai tinha enquanto não ia para o mato. Naquela época, durante a guerra colonial, dizia-se "ir para o mato" quando os rapazes iam combater. Durante o tempo, alguns meses, em que o meu pai não estava, não sabíamos nada dele. Nem um telegramazinho nem nada, completamente desaparecido em combate, lá para cima para o norte, na região de Moeda. Era tudo muito secreto. Eu e a minha mãe ficávamos sózinhas na cidade, (a minha irmã só chegaria em 1968) morávamos no Bairro do Malhangalene, um local muito simpático na altura, muito vivo, cheio de famílias e crianças. Das coisas que me lembro melhor era da loja dos frescos. Ficava em frente à nossa casa e, como o nome indica, só vendia produtos frescos, tipo legumes, fruta, queijo, manteiga, leite, iogurtes, pão e as melhores pastilhas elásticas do mundo. Eram uns rectângulos cor de rosa, com um sabor único e vinham da África do Sul. Naquela época, tudo o que era bom, vinha da África do Sul. Até os iogurtes, a Canada Dry e a Coca-Cola. Cá não havia, o Salazar proibia.
E então, como eu ia dizendo, fomos à praia. O meu pai pegou na sua Cannon e vai de tirar retratos à família. A minha mãe punha-me aquela touca de borracha na cabeça, com dois ursinhos cor de laranja a jogar à bola, eu não gostava nada, arrepelava-me o cabelo todo, fartava-me de refilar. A bóia era vermelha e branca e ia fugindo quando a minha mãe me tirou lá de dentro e me pôs às cavalitas. "Ai a bóia" - disse ela - e o meu pai "snap", naquele preciso momento. Eu estava mais preocupada em ficar bem na fotografia, bóias há muitas. Depois da praia íamos para o Criador comer gelados ou para o Piri-Piri beber laurentinas, comer frango, camarões, lagosta e outros mariscos. Eu ainda não bebia cerveja, só tinha 5 anos. Mas já comia camarões e lagosta. E comia iogurtes, os tais que vinham da África do Sul, em frascos de vidro, de dois tamanhos diferentes, o grande e o pequeno, com tampinhas de alumínio, muito brilhantes e de diversas cores, consoante o sabor. Os meus preferidos eram os de laranja. E enquanto eles estavam ali a curtir com os amigos, eu ficava a olhar de boca aberta para os bifes e bifas (sul-africanos), que enchiam a cidade, andavam por todo o lado e eu nunca tinha visto gente tão grande, tão branca e corada, tão loura e com aqueles olhos tão azuis. E quando me dava o sono, os meus pais juntavam duas cadeiras, deitavam-me ali e "olha, dorme lá aí um bocadinho então que a gente já vai para casa, tá bem?" E eu dormia mesmo. Nunca gostei de ser formiga no piquenique de ninguém.

domingo, outubro 26, 2008

Um domingo qualquer


Adoro esta fotografia. Está numa moldura na minha sala. Eternizou um momento bucólico duma família que, numa tarde quente dum domingo qualquer no Verão de 1955, se deliciou num passeio até ao Castelo de Almourol em pleno Rio Tejo. A bonita rapariga à janela do automóvel é a minha Mãe no esplendor dos seus 23 anos. Ainda não conhecia o meu Pai que estava a fazer a recruta no regimento de caçadores paraquedistas ali perto, em Tancos. O resto da família são, à direita, o meu tio António, tendo ao colo o meu primo João Manuel com dois meses de idade e a minha tia Maria José, mãe do bébé e do meu primo Armando Manuel então com 10 anos e sentado em baixo. Ao lado dele, está a Gracinda, uma afilhada do outro casal à esquerda, o tio Armando e a tia Mitá. Sempre que olho para esta fotografia apetece-me lá estar. Eu nasci cinco anos mais tarde, numa tarde de Verão dum domingo qualquer.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Parabéns, Cristiana!

20 de Outubro de 1985 - 18h50
A minha filha faz hoje 23 anos. Quero para ela, melhor do mundo!