Os jornais, tal como os conhecemos, acabaram. Adiós... - diz em tom teatral, balançando no ar um exemplar do "El País". Não significa dizer que deixarão de existir. Esse adiós resulta tão somente da constatação de que os impressos pertencem à sociedade industrial, e não estamos mais nela. Entramos na sociedade digital.
No ano passado, cerca de 600 jornais fecharam as portas nos EUA, alguns deles com muita tradição. Há cidades americanas que simplesmente ficaram sem o seu jornal local, o que chega a ser traumático. Em geral, jornais nascem defendendo bandeiras políticas e, ao se manterem à custa das receitas publicitárias, preservam sua independência.
Como esse modelo ficará? Embora a edição digital do "El País" venha crescendo bastante, eu não posso lhe dizer que se trata só de uma bem-sucedida transposição do impresso para o online, porque não é verdade. São veículos diferentes.
Gastamos horas e horas de discussão para saber se devemos ou não cobrar por nossos conteúdos na internet ou oferecê-los de graça. A esta altura do jogo, me parece uma pergunta sem sentido. O que nos cabe perguntar é que tipo de jornalismo queremos ter na rede. Não está claro.
Hoje, as melhores imagens que tenho visto, do ponto de vista jornalístico, estão saindo dos celulares de amadores, e não das máquinas dos fotógrafos profissionais. Há um terremoto no Chile e as primeiras imagens que recebemos vêm de cidadãos anônimos. E o que dizer de reportagens feitas por leitores?
Se todos os indivíduos no mundo tiverem acesso a jornais e livros nos patamares dos países desenvolvidos, as florestas da Amazônia somem em dez anos. Eis aí um aspecto positivo da sociedade digital.
Google, Microsoft, Yahoo, Facebook, Twitter, são marcas que nunca existiram no campo analógico. Elas nem precisaram de campanha publicitária de lançamento, ou seja, nunca vi um cartaz dizendo "compre Google". Entrámos nele porque as portas estavam abertas.
E há um aspecto desconcertante a considerar: nenhuma dessas marcas nasceu de um processo convencional, tendo uma estrutura por trás. Todas foram boladas por estudantes em quartos, sótãos e garagens das casas paternas, ou em dormitórios de universidades. Todas. Isso já reflete uma mudança cultural impressionante.
Juan Luis Cebrián, fundador e primeiro diretor do El País
Fonte: "O Estado de São Paulo" (17/04/10)
No ano passado, cerca de 600 jornais fecharam as portas nos EUA, alguns deles com muita tradição. Há cidades americanas que simplesmente ficaram sem o seu jornal local, o que chega a ser traumático. Em geral, jornais nascem defendendo bandeiras políticas e, ao se manterem à custa das receitas publicitárias, preservam sua independência.
Como esse modelo ficará? Embora a edição digital do "El País" venha crescendo bastante, eu não posso lhe dizer que se trata só de uma bem-sucedida transposição do impresso para o online, porque não é verdade. São veículos diferentes.
Gastamos horas e horas de discussão para saber se devemos ou não cobrar por nossos conteúdos na internet ou oferecê-los de graça. A esta altura do jogo, me parece uma pergunta sem sentido. O que nos cabe perguntar é que tipo de jornalismo queremos ter na rede. Não está claro.
Hoje, as melhores imagens que tenho visto, do ponto de vista jornalístico, estão saindo dos celulares de amadores, e não das máquinas dos fotógrafos profissionais. Há um terremoto no Chile e as primeiras imagens que recebemos vêm de cidadãos anônimos. E o que dizer de reportagens feitas por leitores?
Se todos os indivíduos no mundo tiverem acesso a jornais e livros nos patamares dos países desenvolvidos, as florestas da Amazônia somem em dez anos. Eis aí um aspecto positivo da sociedade digital.
Google, Microsoft, Yahoo, Facebook, Twitter, são marcas que nunca existiram no campo analógico. Elas nem precisaram de campanha publicitária de lançamento, ou seja, nunca vi um cartaz dizendo "compre Google". Entrámos nele porque as portas estavam abertas.
E há um aspecto desconcertante a considerar: nenhuma dessas marcas nasceu de um processo convencional, tendo uma estrutura por trás. Todas foram boladas por estudantes em quartos, sótãos e garagens das casas paternas, ou em dormitórios de universidades. Todas. Isso já reflete uma mudança cultural impressionante.
Juan Luis Cebrián, fundador e primeiro diretor do El País
Fonte: "O Estado de São Paulo" (17/04/10)
(com a gentileza do vizinho Aly do finíssimo Letteri Café)
2 comentários:
Bem visto e oportuna discussão.
Um vez vi um documentário muito interessante na tv sobre os atentados terroristas em Madrid em Março de 2004. Uns dias depois dos atentados, houve lá uma manifestação anti-terrorismo, gigantesca, de mais de um milhão de pessoas, em que foram praticamente convocadas por sms. Sms puxa sms. Inacreditável. Os mídia quase não tiveram intervenção nesta manifestação. Quando se deram conta, havia um milhão de pessoas na rua.
Enviar um comentário