segunda-feira, abril 26, 2010

In A Sentimental Mood

MÚSICOS DE JAZZ - DIPLOMATAS NA GUERRA FRIA

Procurando uma imagem internacional amigável, os EUA usaram a arte do Jazz e seus músicos para fazerem política de boa vizinhança, transformando-os em diplomatas na Guerra Fria. Algumas destas imagens contam essa história.

Benny Goodman, em Moscovo (1962)

O programa chamava-se Embaixadores do Jazz. Os inimigos durante a Guerra Fria eram muitos e trazê-los para o lado oposto era o principal objectivo de muitos programas norte-americanos, entre eles o "America's Jazz Ambassadors Embrace the World", em tradução livre: "Os Embaixadores do Jazz Americano Abraçam o Mundo".

Count Basie em Rangum - Birmânia (1971)

A idéia, foi de Adam Clayton Powell Jr., representante do Harley. O raciocínio de Powell era: vamos mostrar ao mundo a América real. Paramos de enviar companhias de ballet e orquestras sinfónicas e enviamos os músicos de Jazz. Na época (meados dos anos 50-fins dos 70), nada melhor que o Jazz e seus grandes representantes.


Clark Terry e sua Giants Jolly, em Karachi/Paquistão (1978)

EUA: bárbaros culturais. Assim era visto o país na época pelos moscovitas que, afinal, tinham um “Bolshoi” na manga. Oferecer uma arte original e encantadora como o Jazz realmente foi uma tirada e tanto. Além do que, num momento em que a segregação racial manchava América, as miscigenadas bandas de Jazz faziam um belo papel.

Duke Ellington observando músicos em Nova Delhi (1963)

O Jazz foi uma arma secreta eficientíssima e a correlação entre a arte e a política, perfeita. No Jazz, o solista faz o que quer, viaja pela sua sensibilidade livremente, embora permanecendo no compasso de tempo e acordes. O mesmo acontece na Democracia: o indivíduo faz o que quer, desde que obedeça às leis e a elas se submeta (?!).


Benny Carter e sua banda. Viagem a Ancara/Turquia (1975)
Bicentenário dos EUA

As “missões” do Embaixadores do Jazz duraram dias e meses e atraiu multidões. A primeira turné foi realizada em 1956 e viajou pelo sul europeu, Médio Oriente e sul asiático. O trompetista Dizzy Gillespie (John Birks Gillespie), diria mais tarde: “fomos poderosamente eficazes contra a propaganda vermelha”.


Dizzy Gillespie – Zagreb, então Jugoslávia e o compositor jugoslavo
Nikica Kalogjera (1956)

O sucesso dos Embaixadores do Jazz foi tão grande que Louis Armstrong – o "Embaixador Satchmo", no Congo (1960), foi carregado em cima de um trono. Antes, em 1957 e reagindo ao tratamento dado ao seu povo no estado sulista do Arkansas, mandou literalmente o governo para o inferno e disse: "Está a ficar insuportável! Um homem de cor não tem qualquer país". Mas mesmo assim, concordou em ir a África.


Louis Armstrong cumprimentando Sir Ahmadu Bello, Sardauna de Sokoto
e 1º Ministro da Região Norte da Nigéria – Kaduna/Nigéria (1960)



Randy Weston autografando para estudantes do Gabão (1967)

A arte do Jazz e seus músicos negros representava a superioridade norte-americana sobre a União Soviética – a liberdade sobre o comunismo.


Sarah Vaughan no Festival de Jazz de Newport
– Belgrado/Jugoslávia (1973)


Dave Brubeck – Bagdad (1958)
Ao tocar em 12 cidades polacas, vários jovens músicos acompanharam a banda de cidade em cidade. Quando regressou a Varsóvia, um daqueles seguidores foi até Brubeck e disse: "O que você trouxe para a Polónia não era só Jazz. Foi o Grand Canyon, o Empire State Building, foi a América."


Woody Herman – Santiago/Chile (1958)
O programa não foi tão eficiente quanto o possível. As pessoas nunca confundiram a arte do Jazz com a política norte-americana.


Charlie Byrd Trio – Embaixada em Manila/Filipinas (1975)

Os Estados Unidos ainda mantêm o programa do Jazz na sua diplomacia, chamado Rhythm Road. Entretanto, agora é mais modesto, mesmo porque, os músicos de Jazz não são tão famosos.


Dave Brubeck e Paul Desmond (centro) encontram-se com músicos
em Bombaim – Índia (1958)

Muitos destes músicos não deram grande importância ao projecto em si. Preocupavam-se muito mais com a música e o seu impacto junto das populações.


Benny Goodman tocando oboé, com um músico
em Rangum – Birmânia (1957)

Fonte: The New York Times

8 comentários:

João Menéres disse...

Como consegues desencantar estas preciosidades?

Um beijo de parabéns pela postagem, RR.

El Matador disse...

Conclusão: Os manos do Jazz andaram a curtir pelo mundo todo à pála do Governo.

peri s.c. disse...

E ainda ajudaram a espalhar pelo mundo aqueles cigarrinhos esquisitos e outras coisinhas, ah, ah, ah .

roserouge disse...

Dumdiguidumdiguidumdum...

Abrenuncio disse...

Do-Wah-Do-Wah-Do-Wah.

roserouge disse...

And... So What?!

Jorge Pinheiro disse...

Excelente reportagem. Muito bom!

roserouge disse...

Obrigada, grande Expresso!