MÚSICOS DE JAZZ - DIPLOMATAS NA GUERRA FRIA
Procurando uma imagem internacional amigável, os EUA usaram a arte do Jazz e seus músicos para fazerem política de boa vizinhança, transformando-os em diplomatas na Guerra Fria. Algumas destas imagens contam essa história.
Benny Goodman, em Moscovo (1962)
O programa chamava-se Embaixadores do Jazz. Os inimigos durante a Guerra Fria eram muitos e trazê-los para o lado oposto era o principal objectivo de muitos programas norte-americanos, entre eles o "America's Jazz Ambassadors Embrace the World", em tradução livre: "Os Embaixadores do Jazz Americano Abraçam o Mundo".
Count Basie em Rangum - Birmânia (1971)
A idéia, foi de Adam Clayton Powell Jr., representante do Harley. O raciocínio de Powell era: vamos mostrar ao mundo a América real. Paramos de enviar companhias de ballet e orquestras sinfónicas e enviamos os músicos de Jazz. Na época (meados dos anos 50-fins dos 70), nada melhor que o Jazz e seus grandes representantes.
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Clark Terry e sua Giants Jolly, em Karachi/Paquistão (1978)
EUA: bárbaros culturais. Assim era visto o país na época pelos moscovitas que, afinal, tinham um “Bolshoi” na manga. Oferecer uma arte original e encantadora como o Jazz realmente foi uma tirada e tanto. Além do que, num momento em que a segregação racial manchava América, as miscigenadas bandas de Jazz faziam um belo papel.
Duke Ellington observando músicos em Nova Delhi (1963) O Jazz foi uma arma secreta eficientíssima e a correlação entre a arte e a política, perfeita. No Jazz, o solista faz o que quer, viaja pela sua sensibilidade livremente, embora permanecendo no compasso de tempo e acordes. O mesmo acontece na Democracia: o indivíduo faz o que quer, desde que obedeça às leis e a elas se submeta (?!).
Benny Carter e sua banda. Viagem a Ancara/Turquia (1975)
Bicentenário dos EUA
As “missões” do Embaixadores do Jazz duraram dias e meses e atraiu multidões. A primeira turné foi realizada em 1956 e viajou pelo sul europeu, Médio Oriente e sul asiático. O trompetista Dizzy Gillespie (John Birks Gillespie), diria mais tarde: “fomos poderosamente eficazes contra a propaganda vermelha”.
Dizzy Gillespie – Zagreb, então Jugoslávia e o compositor jugoslavo Nikica Kalogjera (1956)
O sucesso dos Embaixadores do Jazz foi tão grande que Louis Armstrong – o "Embaixador Satchmo", no Congo (1960), foi carregado em cima de um trono. Antes, em 1957 e reagindo ao tratamento dado ao seu povo no estado sulista do Arkansas, mandou literalmente o governo para o inferno e disse: "Está a ficar insuportável! Um homem de cor não tem qualquer país". Mas mesmo assim, concordou em ir a África.
Louis Armstrong cumprimentando Sir Ahmadu Bello, Sardauna de Sokoto e 1º Ministro da Região Norte da Nigéria – Kaduna/Nigéria (1960)
Randy Weston autografando para estudantes do Gabão (1967)
A arte do Jazz e seus músicos negros representava a superioridade norte-americana sobre a União Soviética – a liberdade sobre o comunismo.
Sarah Vaughan no Festival de Jazz de Newport – Belgrado/Jugoslávia (1973)
Dave Brubeck – Bagdad (1958)
Ao tocar em 12 cidades polacas, vários jovens músicos acompanharam a banda de cidade em cidade. Quando regressou a Varsóvia, um daqueles seguidores foi até Brubeck e disse: "O que você trouxe para a Polónia não era só Jazz. Foi o Grand Canyon, o Empire State Building, foi a América."
Woody Herman – Santiago/Chile (1958)
O programa não foi tão eficiente quanto o possível. As pessoas nunca confundiram a arte do Jazz com a política norte-americana.
Charlie Byrd Trio – Embaixada em Manila/Filipinas (1975)
Os Estados Unidos ainda mantêm o programa do Jazz na sua diplomacia, chamado Rhythm Road. Entretanto, agora é mais modesto, mesmo porque, os músicos de Jazz não são tão famosos.
Dave Brubeck e Paul Desmond (centro) encontram-se com músicos em Bombaim – Índia (1958)
Muitos destes músicos não deram grande importância ao projecto em si. Preocupavam-se muito mais com a música e o seu impacto junto das populações.
Benny Goodman tocando oboé, com um músico em Rangum – Birmânia (1957)
Fonte: The New York Times
8 comentários:
Como consegues desencantar estas preciosidades?
Um beijo de parabéns pela postagem, RR.
Conclusão: Os manos do Jazz andaram a curtir pelo mundo todo à pála do Governo.
E ainda ajudaram a espalhar pelo mundo aqueles cigarrinhos esquisitos e outras coisinhas, ah, ah, ah .
Dumdiguidumdiguidumdum...
Do-Wah-Do-Wah-Do-Wah.
And... So What?!
Excelente reportagem. Muito bom!
Obrigada, grande Expresso!
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