"Tenho por princípio não aceitar nunca uma derrota, de qualquer tipo, seja quem for que ma queira infligir".
Alexandra David-Néel tinha 44 anos quando viu pela primeira vez o Tibete depois de um duro inverno no Himalaia. "Que vista inesquecível! Fiquei tocada para sempre". Não foram as suas imponentes paisagens que a animaram a passar boa parte da sua vida nestas remotas terras controladas pelo exército chinês e proibidas aos estrangeiros, mas sim a sabedoria dos seus monges e ascetas. As suas pereginações místicas transformaram-na numa mulher iluminada a quem os lamas baptizaram com o nome "Lâmpada da Sabedoria".
Alexandra David, nasceu a 24 de Outubro de 1868 em Paris, no seio duma família burguesa e sentiu desde menina a paixão pelas viagens enfrentando todos os preconceitos do seu tempo. Em finais do século XIX era desonroso e extravagante uma mulher viajar sózinha. Ela não só fugiu várias vezes de casa (a primeira aos 5 anos e a última aos 17) como se recusou a usar um espartilho como as raparigas da época, escolheu ela mesma o homem com quem queria casar, decidiu não ter filhos e passou a vida a viajar por lugares que, na altura, mal apareciam nos mapas. Atraída pelo budismo tibetano, aprendeu sânscrito e inglês e viajou pela primeira vez até ao Ceilão e à Índia em 1891, graças a uma oportuna herança. Tinha 23 anos e o apelo do Oriente era já muito forte. Por ser uma jovem muito independente, Alexandra emacipa-se financeiramente da sua família, iniciando uma carreira artística de teatro lírico, levando a sério os seus estudos musicais, mantendo correspondência com grandes músicos da época. Esse período de cantora lírica e actriz, levá-la-á em digressão pela Europa, pela Indochina e pelo Norte de África, chegando a dirigir o Casino de Tunes onde, em 1900, conhece Philippe Néel, seu futuro marido e com quem manterá uma relação extraordinária até à morte deste em 1941. Quase em simultâneo com a actividade artística, Alexandra David-Néel empreenderá um vasto trabalho jornalístico, trabalho esse que lhe vai definindo os interesses de ensaísta e de grande viajante. Os longos trajectos que empreende pela Ásia a partir de 1911 serão com frequência grandes provações e, confessará a Philippe que "poucas pessoas nascidas na Europa poderiam suportar a vida que eu levo; são o meu temperamento místico e os meus desígnios filosóficos que me permitem viver assim".
Em 1925, Alexandra é a primeira mulher a chegar à cidade santa de Lhasa, no Tibete, de cuja filosofia se tornou um dos mais profundos conhecedores ocidentais. Durante mais de 30 anos viveu na Ásia, viajando sempre de mula, iaque, cavalo e até a pé. No regresso a França é recebida como uma heroína e concedem-lhe uma chuva de medalhas e reconhecimentos, entre eles a Legião de Honra. Cansada de vaguear pelo mundo instala-se em Digne, perto de Nice, com o seu filho adoptivo, o lama Afur Yongden, onde continua os seus estudos e traduções de textos tibetanos, permanecendo, até ao final dos seus dias perfeitamente lúcida, escrevendo também artigos e preparando a sua biografia. Aos 100 anos, renovou o passaporte "para uma eventualidade". E, quando em Maio de 68 seguiu pela rádio os acontecimentos de Paris, reage como era natural que reagisse: com o júbilo combativo da sua juventude. A intrépida caminhante, exploradora, anarquista, espiritualista, budista e escritora, publicou mais de 30 livros sobre religião, filosofia e viagens. Os seus ensinamentos influenciaram os chamados escritores da beat generation Jack Kerouac e Allen Ginsberg e o filósofo Alan Watts. Alexandra David-Néel morreu a 8 de Setembro de 1969 na sua casa de Digne, que ela baptizara de "Samten Dzong" (Fortaleza da Meditação, em tibetano). Ia fazer 101 anos.
terça-feira, novembro 25, 2008
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5 comentários:
Fantástica Alexandra!
RR: Graças a ti, conheci esta MULHER !
Beijos, tantos quantos a admiração com que fiquei pela A.D.
Como dizemos aqui : "da pá virada" essa mulher.
Uma mulher extraordinária, de facto! Esta biografia está bastante reduzida, há muito mais para ler. Tenho um livro dela cá em casa chamado "Pela Vida" que é um verdadeiro hino à liberdade.
Que engraçado, esses dias mesmo estava assistindo 7 anos no Tibet, parece que estamos sintonizadas! Então, essa Alexandra foi bem da pá virada mesmo, um exemplo!
Excelente post. Uma mulher pouco conhecida de que só ouvira falar a propósito da beat generation.
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