(...) Para mim há algo de primitivo e tranquilizador nesta música (blues), e entrou-me directamente no sistema nervoso, fazendo-me sentir um gigante de três metros. Era a mesma sensação que eu tinha tido quando ouvi a primeira música de Sonny Terry e Brownie McGhee no programa do Tio Mac, e o mesmo aconteceu quando ouvi Big Bill Broonzy pela primeira vez.
Vi uma actuação dele na televisão, a tocar num clube nocturno, iluminado por uma única lâmpada a projectar uma sombra vacilante a partir do tecto, criando um efeito de luz fantasmagórico. O tema que ele estava a tocar chamava-se "Hey Hey" e deixou-me de boca aberta. Era uma peça de guitarra complicada, cheia de blue notes, que resultam da divisão de uma nota maior com uma nota menor. Começa-se normalmente pela nota menor e dobra-se a corda para cima em direcção à maior, por isso fica algures entre as duas. A música egípcia e indiana também utiliza este tipo de alongamento de notas. Quando ouvi Big Bill pela primeira vez e, mais tarde, Robert Johnson, convenci-me que todo o rock'n'roll - bem como a música pop, já agora - tinha nascido dessa raiz. (...)
Eric Clapton - Autobiografia
Casa das Letras, Maio 2008.
3 comentários:
Pena que ele tenha deixado o blues para se dedicar a tempo inteiro à música lamechas.
Querido Eli,
quando se sofre um choque emocional tão violento como perder um filho de 5 anos porque caíu de um arranha-céus abaixo, é natural que ocorram alterações comportamentais profundas no mais íntimo de uma pessoa. Quem não se sente, não é filho de boa gente. "Tears in Heaven", que Clapton escreveu dedicada ao filho morto, é uma belíssima canção. Lamechas ou não. De qualquer forma, continua a ser um excelente músico. Além disso, há mais vida depois dos blues.
Tá bem.
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