terça-feira, julho 21, 2009

Xico Zé Henriques (1952 - 2009)



Uma vez li algures que percebemos que estamos a ficar velhos quando começam a morrer os nossos amigos, em vez dos amigos dos nossos pais, o que acontece quando somos jovens. Hoje, mais um amigo que se foi. Neste eixo Caxias-Paço d'Arcos-Oeiras começaram a morrer aos 20 anos, quando ainda tínhamos todos 20 anos e pouco mais. Quase todos os anos desaparece um. Fazer o quê? É a vida. Ou não. É a morte. Descansa em paz, Xico Zé.
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Em baixo, texto extraído integralmente do blog expressodalinha do Jorge Pinheiro.
Morreu o Xico Zé, vítima de um cabrão de um linfoma que há mais de um ano o incomodava. Uma doença cobarde e intratável. Esta fotografia, da autoria de Carmo Romão, foi a última que lhe foi tirada. Foi no dia 20 de Junho a seguir ao último concerto que deu e em que claramente se quis despedir de todos os amigos. Depois disso ainda estive com ele, mas o desfecho era evidente. Com ele morre muita coisa. Morre o "Ephedra", o grupo onde também toco e que tínhamos ressuscitado com grande esforço. Gravámos um disco e fizémos três excelentes concertos. Ele era o orquestrador e o maestro. O motor da banda. Sem ele não tem interesse. Não tem qualquer piada. Com ele morrem também muitos projectos que tínhamos para realizar, agora que nos tínhamos reencontrado. Com ele morre também uma parte de mim. A vida não obedece a projectos. Tem o seu próprio timing. Um timing que nós não entendemos, mas que não é, seguramente, o dos nossos relógios e calendários. O Xico morreu em sofrimento e revoltado. Nós ficamos a sofrer e em revolta. Nos últimos dois anos morreram três amigos íntimos. E o pior é que outros se seguirão. Um dia destes estou isolado na virtualidade da solidão, a escrever nada para coisa nenhuma, para ninguém ler. Um beijo grande para a mulher e filhos, a quem presto a minha homenagem. O Xico Zé estará na capela de Caxias/Laveiras a partir das 17 horas de hoje. O funeral será amanhã. Jorge Pinheiro

5 comentários:

João Menéres disse...

Já deixei umas palavras no Expresso.
Aqui, vou usar uma frase do Jorge que puseste para o lado.
Mas, acho que o Jorge vai entender...

É a vida (mesmo que da morte se trate).

Anónimo disse...

A morte faz parte da vida! Assim caminha a humanidade! Meus sentimentos a todos os familiares e amigos do Xico.

Jorge Pinheiro disse...

Entendi perfeitamente João.
Bé: esta para mim foi das fortes, embora esperada. Perdi um parceiro, para além do amigo.

roserouge disse...

Perdemos todos. E um dos melhores músicos que este País já conheceu. Bj.

Unknown disse...

Sou a Maria Morbey, ou Maria Henriques como quiserem, filha mais velha do Xico Zé. Queria rectificar algumas palavras. O meu pai não morreu revoltado, embora estivesse agarrado à vida com todas as suas forças, embora o seu mau feitio estivesse mais agudo, nos últimos momentos, apesar da morfina ele reagiu a tudo o que lhe diziamos. Estivemos sempre ao seu lado, cantámos para ele uma canção de embalar que ele escreveu para mim quando eu tinha 3 anos e ele sorriu. Sorriu também quando lhe disse que não tivesse medo, que ficasse descansado pois eu, como filha e companheira na música desde que me lembro, tomaria conta da sua herança, pois sei muito bem como funcionava a sua cabeça e qual era a sua vontade, que vou respeitar.
O Pai Xico Zé deixou-nos uma grande herança musical, muitos temas que ninguém conhece. Já em Fevereiro um projecto grande vai nascer, estejam atentos, é no CCB - criação musical para a infância. Outras surpresas se seguirão.
O meu pai era um grande senhor e embora estivesse a sofrer muito, no final a revolta dissipou-se, ficou o grande amor que sentia pela família, pelos amigos e pela música. Um grande Músico e uma grande humildade e respeito.

Maria