sexta-feira, dezembro 19, 2008

Quantas vezes, Amor, me tens ferido?


Quantas vezes, Amor, me tens ferido?
Quantas vezes, Razão, me tens curado?
Quão fácil de um estado a outro estado
O mortal sem querer é conduzido!

Tal, que em grau venerando, alto e luzido,
Como que até regia a mão do fado,
Onde o Sol, bem de todos, lhe é vedado,
Depois com ferros vis se vê cingido:

Para que o nosso orgulho as asas corte,
Que variedade inclui esta medida,
Este intervalo da existência à morte!

Travam-se gosto, e dor; sossego e lida;
É lei da natureza, é lei da sorte,
Que seja o mal e o bem matiz da vida.

Bocage

6 comentários:

João Menéres disse...

Ai, RR...
Como estás tu, para ires buscar soneto tão amargurado...
O Sol voltou (não sei por quantos dias...) e tudo será diferente de um momento para o outro.

roserouge disse...

Quem acabou de chegar do Brasil, com a alma lavadinha de tanto passeio, foste tu, não fui eu...euzinha aqui, a pobre, ficou na terrinha, a levar com o frio e a chuva, snif, snif...

Jorge Pinheiro disse...

Rose: que exagero... O Bocage era um desequilibrado!

João Menéres disse...

Trago-te o Sol que não tive nos dois últimos dias e ainda te choras???

roserouge disse...

Expresso: tens razão, o homem era um tresloucado. Do nosso signo, ainda por cima...

João: temos tido sol por aqui...

Jorge Pinheiro disse...

Os virgens quando lhes dá para isto são lixados!