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sexta-feira, janeiro 30, 2009

Poema Em Linha Recta


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos

sexta-feira, dezembro 19, 2008

Quantas vezes, Amor, me tens ferido?


Quantas vezes, Amor, me tens ferido?
Quantas vezes, Razão, me tens curado?
Quão fácil de um estado a outro estado
O mortal sem querer é conduzido!

Tal, que em grau venerando, alto e luzido,
Como que até regia a mão do fado,
Onde o Sol, bem de todos, lhe é vedado,
Depois com ferros vis se vê cingido:

Para que o nosso orgulho as asas corte,
Que variedade inclui esta medida,
Este intervalo da existência à morte!

Travam-se gosto, e dor; sossego e lida;
É lei da natureza, é lei da sorte,
Que seja o mal e o bem matiz da vida.

Bocage

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Não temas, ó Musa!


"Não temas, ó Musa! Modos e dias verdadeiramente novos te recebem e rodeiam,
Francamente reconheço uma raça muito singular, de um novo estilo,
E, contudo, é a mesma velha raça humana, a mesma por dentro e por fora,
Os mesmos rostos e corações, os mesmos sentimentos, os mesmos desejos,
O mesmo velho amor, a mesma beleza e os mesmos costumes".
- Walt Whitman

terça-feira, outubro 28, 2008

Poesia Mineira

E para fazer concorrência ao nosso muito estimado Drops Azul Aniss, aqui vai esta pérola da poesia mineira. Não sei quem escreveu, mas se algum de vocês souber, é favor dizer. A Cruzada Anti-Depressão-Por-Causa-da-Crise continua!

Vô contá como é triste, vê a veíce chegá,
Vê os cabêlo caíno, vê as vista encurtá.
Vê as perna trumbicano, com priguiça de andá.
Vê "aquilo" esmoreceno, sem força prá levantá.

As carne vão sumino, vai parecêno as vêia.
As vista diminuíno e cresceno a sombrancêia.
As coisa vão encurtano, vão aumentano as orêia.
Os ôvo dipindurano e diminuíno a pêia.

A veíce é uma doença que dá em todo cristão:
dói os braço, dói as perna, dói os dedo, dói a mão.
Dói o figo e a barriga, dói o rim, dói o purmão.
Dói o fim do espinhaço, dói a corda do cunhão.

Quando a gente fica véio, tudo no mundo acontece:
vai passano pelas rua e as menina se oferece.
A gente óia tudo, benza Deus e agradece,
correno ligeiro prá casa, procurano o INSS.

No tempo que eu era moço, o sol prá mim briava
Eu tinha mir namorada, tudo de bão me sobrava.
As menina mais bonita da cidade eu bolinava.
Eu fazia todo dia, inté o bichim desbotava.

Mais tudo isso passô, fais tempo ficô prá tráis
as coisa que eu fazia, hoje num sô capaiz.
O tempo me robô tudo, de uma maneira sagaiz.
Prá falá memo a verdade, nem trepá eu trepo mais.

Quando chega os setenta, tudo no mundo embaraça.
Pega a muié, vai pra cama, aparpa, beja e abraça,
porém só faiz duas coisa: solta peido e acha graça.

Autor Desconhecido