segunda-feira, dezembro 29, 2008
Ronnie Scott's - Londres
Estamos em Julho de 1999 e eu estava a passar um fim de semana alargado em Londres. Sabendo da minha paixão pelo Jazz, o meu namorado da altura e que por acaso até vivia lá, resolveu presentear-me com uma noite no Ronnie Scott's. Nesse Verão, este que é um dos clubes de Jazz mais famosos do mundo, comemorava os seus 40 anos de existência. Nessa noite, quem estava a tocar era Roy Ayers e a sua banda. E foi um dos concertos da minha vida, principalmente pelo local onde estava. A atmosfera muito própria e toda aquela magia de estar sentada lá a respirar e a absorver aquilo tudo, são inesquecíveis. À saída, estava Roy Ayers sentado perto da porta a dar autógrafos e fui lá pedir-lhe um também. Peguei num programa (esse daí da foto) aproximei-me, hello could I have your autograph, please? E ele vira-se para mim e pergunta:
- Ok, what's you name?
- Well, Bé...
- Excuse me?!?!
Eu repeti o nome.
- Can you spell it, please?
- It's BE
- BE? Jesus, what kind of a name is that?! - virou-se a rir para um tipo que estava atrás dele - did you hear that? Her name is BE!
- Cool name. Short and simple. - disse o outro.
- OK, BE here's for you! - e escreveu no programa - To be or not to be - there you go! Nice talking to you!
- Gee, thanks a lot! Very nice concert! Had a great time!
- Thank you, glad you liked it.
Em 2009, o Ronnie Scott's vai comemorar 50 anos. Não me importava nada de lá voltar...
Juntamente com o Village Vanguard e o Blue Note, em Nova Iorque, o londrino Ronnie Scott's é um dos santuários do jazz em todo o mundo.
As fotografias a preto e branco que cobrem as paredes estão lá para lembrar Dizzy Gillespie, Ben Webster, Coleman Hawkins, Stan Getz, Charles Mingus, Thelonius Monk, Dexter Gordon, Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald, Sonny Rollins, Bill Evans, Miles Davis... o lugar viu desfilar os maiores nomes do jazz.
Mas o prestígio da sala da Frith Street, no bairro do Soho, deve-se sobretudo à personalidade dos seus co-fundadores, Ronnie Scott, que morreu em 1996, e Pete King, os dois saxofonistas tenor. «O facto de Ronnie e eu sermos músicos fez provavelmente toda a diferença. Queríamos um lugar onde tivessemos prazer em tocar e onde outros músicos se sentissem da mesma forma», explica Pete King.
Em 1959, os dois amigos abriram uma sala na Gerrard Street, tendo como principal ambição pagar a renda e oferecer um palco aos jazzmen britânicos. Eles queriam também convidar os americanos, mas entraram em choque com o sindicato dos músicos, com o qual Pete King negociou durante dois anos antes de poder receber uma primeira orquestra dos Estados Unidos.
Desde então, as actuações das estrelas sucederam-se e foi preciso mudar de lugar. O clube actual abriu portas em Outubro de 1968. Mas o êxito não mudou em nada a vontade dos proprietários de revelar jovens talentos e a programação continuou afinada.
Às populares big bands, o clube preferiu frequentemente formações mais inovadoras, como foi o caso do baterista Art Blakey e dos seus famosos Jazz Messengers. Abriram também portas a Tom Waits ou Jimi Hendrix que, na noite anterior à sua morte, tocou com Miles Davis no palco do Ronnie Scott's. Atraíram assim uma clientela de conhecedores que durante muito tempo se distingiu pela atenção com que ouvia os músicos. Ronnie Scott tinha, aliás, o hábito de dizer aos espectadores que não estavam lá para se divertir.
As coisas estão hoje um pouco diferentes. Os risos e as vozes são cada vez mais frequentes. «A maior parte das pessoas vêm para ouvir jazz, mas outros vêm apenas para se encontrar com os amigos, beber um copo e relaxar. Há menos tensão no ar», constata Pete King.
A mudança de proprietários deu-se em 2004 e não contribuiu para sossegar os espíritos daqueles para quem o Ronnie Scott's já tinha perdido um pouco da sua magia. Sally Greene, que já é dona de dois teatros e de um restaurante em Londres, é agora a accionista maioritária, em associação com o actor americano Kevin Spacey, um habitué do clube - onde já cantou - e que poderá ser o próximo director, após a saída de Pete King.
A mulher de negócios assegura que não quer desvirtuar o local, mas faz temer o pior aos habitués ao declarar à imprensa que «o público jovem de hoje não tem as mesmas expectativas do que o de 1959» e que ela «não gosta de perder dinheiro».
No entanto, Pete King já acalmou o público ao sublinhar que o essencial foi ter assegurado a sobrevivência do clube depois de anos difíceis. Quase aos 80 anos de idade, ele já garantiu que estará presente no cinquentenário do clube, em 2009 e não deixou de «picar» de passagem o seu novo sócio hollywoodiano, «o tipo com o telemóvel e o cão». E eu que moro aqui tão longe...
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21 comentários:
Adorei a dedicatória e gostei do texto. Também gosto de Jazz, mas não sou fanático a esse ponto!!!!
Bj Bé
Então, então e a Nina Simone?? Tenho um excelente DVD dela ao vivo nesse grande palco.
Por acaso para o ano tenho ideia de lá passar, vamos ver. :P
Não duvido que a Nina Simone tenha por lá passado. Não sabia era que o Jimi Hendrix lá tinha tocado com o Miles Davis na noite antes de morrer. Que coisa extraordinária!
Tb. não sabia do Jimi! Excelente história essa com o Roy Ayers. Já estive no Ronnie's com ele ainda vivo. Fui lá jantar na 1ª fila e assisti aos dois "sets" da noite. Um trio americano excepcional e, no fim, havia uma daquelas "jams" para cotas, mais ou mens organizada. Para meu espanto aparece no órgão Hammond o Mike Carr, que tocou em Portugal nos anos 60, com o "Quinteto Académico + 2". Fui falar com o velhote. Mandou-me cumprimentos para uma data de músicos conhecidos, entre eles o Cid (safa). Apenas mais uma história do jazz, para acrescentar ao post.
Queres combinar ir aos 50 anos? Vê se sabes a programação. Talvez arranje instalação a preços civilizados. O meu filho mais novo mora em Londres.
Ó pequeno, o Roy Ayers ainda é vivo. Esteve há pouco tempo a tocar com a sua banda Ubiquity no Arena Loungue, Casino de Lisboa. Não fui ver, sabe-se lá porquê! Mas sim, ir a Londres no Verão, é um caso para pensar. Há quase 10 anos, as comemorações duraram 2 meses, como podes ver no programa lá em cima. Vou debruçar-me sobre o site e depois falamos melhor. Adorei a tua história também. Bj.
Ah, desculpa, estavas a referir-te ao Ronnie Scott himself, já percebi. Sorry.
Também lá estive. No mesmo dia do Expresso da Linha. A ver o Julian Jones Trio e uma cota americana já fora de prazo que cantava blues como gente grande. O tal Mike Carr no Hammond e um guitarrista daqueles que nem se dá por ele mas que as mete todas no sítio certo. Achei barato. Afinal, foi o Expresso que pagou o jantar...
A mim, pelos vistos, vai pagar a estadia. Em casa do filho dele...eu faço o jantar, mas não lavo a loiça!
Al: ainda bem que paguei o jantar. Assim alguém se lembra do nome desse óptimo pianista. Por acaso já não vais ao baterista, não? Um puto ambidestro que tocava comó...
Rose: podes fazer o jantar. A casa do Manel é comunitária. Portanto prepara-te para fazer o jantar para dez!
Alto e para o baile que me enganei no nome do pianista : Julian Joseph é que é ! Até porque tenho um CD - "reality" que me avivou a memória. O nome do baterista ambidextro é que tens que ter paciência. O melhor é perguntares ao Mike Carr...
Qual Mike Carr? O amiguinho do Cid? Safa! Se ele estiver o mesmo destroço que este aqui está, já nem se deve lembrar com que mão segura na colher...
Faço jantar para 10, na boa!Parecia que estava a adivinhar quando disse que não lavava a loiça...
Pois, mas ainda falta convencer o Manel e os outros...
Al, se tens o CD há-de lá estar o baterista!
Só consegui ir ao Ronnie's uma vez. Sempre que vou a Londres nunca consigo lugar. As vezes que fui a NY estive no Blue Note, no Vanguard e no Birdland, mas gostei mais do ambiente e o "layout" do Ronnie. Contem comigo para a ida ao aniversário.
Óptimo. Temos que começar a procurar casa. Talvez aquele ex-presidente do Benfica facilite qq coisa!
Sim, com aquele casarão...caríssimo ainda por cima. Mas não sei se será boa idéia. Vigarista como ele é ainda é capaz de nos cobrar e muito mais caro do que se ficarmos num hotel.
E parece que o homem tem azar com as casas. A ultima tinha infiltrações e por isso deixou de pagar a renda. Esta algum defeito há-de ter. Não vamos querer que o homem gaste a fortuna em rendas...
Expresso : o baterista do cd é um Marc Mondesir, mas esta gravação tem 5 elementos e não te garanto que seja o ambidextro que vimos no Ronnie Scott's
Que clientela chique eu tenho por aqui. Ele é Londres, ele é Nova York...
Al: obrigado,mas não tenho ideia desse nome
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