segunda-feira, março 29, 2010

Siddartha

"Tudo isto são coisas, coisas que nós podemos amar. Mas não posso amar palavras. É por isso que não aprecio as doutrinas, não têm dureza ou moleza, não têm cores, não têm arestas, não têm cheiro, não têm gosto, não têm senão palavras. Talvez seja isto que te impede de encontrares a paz, talvez sejam as palavras em excesso. Porque também libertação e virtude, também Samsara e Nirvana são meras palavras. Nada existe que seja o Nirvana; apenas existe a palavra Nirvana."
Siddartha - Hermann Hesse
Hermann Hesse por Andy Wahrol
a partir de uma foto de Martin Hesse.

Nascido na Índia no século VI a. C., filho de um brâmane, Siddartha passa a infância e juventude isolado das misérias do mundo, gozando de uma existência calma e contemplativa. A certa altura, porém, abdica da vida luxuosa e protegida, e parte em peregrinação pelo país, onde a pobreza e o sofrimento eram regra. Na sua longa viagem existencial, Siddartha experimenta de tudo, usufruindo tanto as maravilhas do sexo, quanto o jejum absoluto. Entre os intensos prazeres e as privações extremas, termina por descobrir o "caminho do meio", libertando-se dos apelos dos sentidos e encontrando a senda da paz interior. Em páginas de rara beleza, Siddartha descreve sensações e impressões como raramente se consegue. Lê-lo é deixar-se fluir como o rio onde Siddartha aprende que o importante é saber escutar com perfeição.
(texto extraído de uma das "orelhas" do livro Siddartha de Herman Hesse)

"Este Inverno horrível, que nem sequer merece ser chamado como tal, está a dar-me cabo dos nervos. Tivémos neve durante algum tempo, o que me deu bastante prazer, pois andava de trenó durante parte do dia. Desde então, a neve derreteu e tem chovido. Está um ambiente quente e húmido, sopra constantemente um vento detestável, temos um tempo completamente descaracterizado. Estou perplexo com estas alterações do clima em que os Verões são frescos e os Invernos, quentes. Sinto-me consternado no mais fundo da minha alma, pois só gosto de frio ou calor extremos, cores vivas e luz límpida."
(extracto de uma carta de Herman Hesse a Stefan Zweig datada de 9 de Fevereiro de 1904)

12 comentários:

João Menéres disse...

Uma postagem muito INTELECTUAL.
Apreciei, mesmo sem ter um texto teu para me divertir um bocado.

Um beijo.

El Matador disse...

Este já li, é mesmo um bom livro.

roserouge disse...

João, nem sempre me apetece dizer disparates.

El Matador, um dos livros da minha vida. E sempre ali à mão de semear para se dar uma espreitadela de vez em quando.

Anónimo disse...

Também o li há muitos anos e adorei. Lembras bem, acho que vou voltar a espreitar outra vez. Estou a precisar.
Ortega

Anónimo disse...

...Também gostei muito dos outros livros do H.Hesse que li. Um génio.
Ortega

roserouge disse...

Ortega, o homem era genial mesmo. Uma coisa curiosa acerca da qual ainda ninguém falou, é aquela carta que ele escreveu a Stefan Zweig (outro monstro) acerca das alterações climatéricas que estava a assistir. Estamos em 1904...

Jorge Pinheiro disse...

As alterações eram na cabeça dele. Reli recentemente pela quinta vez. Sempre bom.

roserouge disse...

Na cabeça dele? Não duvido que a cabeça dele sofresse umas alterações de vez em quando... com esta malta, nunca se sabe. E então naquela época, em que eles tomavam aquelas substâncais maradas "por questões de saúde"... todos uns malandros, isso sim.

Gabriela Lacerda disse...

Muito bom livro. Sou uma apreciadora da escrita de Hesse.

Anónimo disse...

É na verdade muito curioso esse desabafo sobre as alterações climáticas (ou climatéricas?)sentidas pelo Hesse no início do séc. XX. Pelo que sei, na altura temia-se o começo de uma nova era glaciar.
Ortega

roserouge disse...

Ortega, existe uma teoria que defende que o Planeta Terra é um "ser vivo", um organismo em contante mutação. Terramotos, enxurradas, tornados, furacões, maremotos, vulcões, chuvas torrenciais e outras forças da natureza são coisas absolutamente normais, fazem parte. Hoje em dia é tudo exacerbado à escala mundial, mediatizado até à exaustão, até as pessoas perderem o interesse e logo logo tem que se arranjar outra tragédia para manter as pessoas entretidas.
Salvar o planeta? Para quê? Ele sabe defender-se. Nada como uma calamidadezita para arrasar com alguns milhares de pessoas duma só vez. Só que em 1904 ainda não havia televisão.

Jorge Pinheiro disse...

O que era uma sorte...