sábado, julho 17, 2010

Perfect Day



No Verão de 2005, Vincent Moon fez este filme com uma super8 em França, a pedido dos The National para o single Lit Up do excelente álbum Alligator - "algures entre a música rock e a natureza ou como nós, os humanos, somos pura emoção, pulando da água para o palco, libertando o que nos vai na alma" - Vincent Moon.


E então a coisa vai ser assim: levantar bem cedinho amanhã de manhã. Encontro com alguns amiguinhos em Lisboa, em local a combinar. Atravessar a ponte, rumo ao Meco. Encontro com outros amiguinhos que já lá estão desde ontem. Ouvir as novidades e impressões deixadas pelos concertos das noites anteriores. Rir muito e dizer repetidamente "ya ya que fixe". Alagartar com o que resta da carcaça nas areias da praia. Dar umas cacholadas nas ondas, para refrescar as idéias e soltar o ranho que se vai acumulando ao longo da semana. Dizer disparates. Rir muito. Fazer xixi no mar, a única maneira de aquecer a água durante breves instantes. Comer uma ou duas pistoletes (sandochas) de atum com tomate. Beber água. Falar sobre as últimas coisas que se andam a ler e outras tipo "o quéquetensfeito?". Comer pêssegos, ameixas e melão partido aos quadradinhos numa tuperuére. Beber mais água. Começar a arrumar a tralha e recolher o lixo para vir embora. Sacudir a areia dos pézinhos e limpar bem aquela que o vento foi colocando nas orelhas e nas pregas das partes pudibundas. Vestir a mesma roupa. Constatar que não vale a pena tomar duche, vai mesmo assim, o cabelo todo desgrenhado e a pele a saber a sal. Rir muito, dizer mais coisas sem sentido nenhum e beber mais água. Chegada ao recinto do festival e começar a comer pó. Ir à procura do bar mais próximo. Deambular por ali, de copo de plástico na mão e a saltitar de palco em palco para conseguir ver o mais possível para depois ter assunto de conversa com os amigos. Bater palminhas segurando o copo com os dentes, assobiar e continuar a rir muito. Dar beijinhos aos The National e abracinhos aos Spoon. Beber mais umas jolas para limpar a garganta daquela poeirada toda. Gemer. Gemer muito e pensar "qu'esta merda nunca mais acaba, já não sinto os pés". Ai. Bater mais palminhas, clap clap clap, dar muitos pulinhos e gritinhos quando Prince pisar o palco. Já cá veio duas vezes e eu nunca vi. Devia de andar distraída com outras coisas. Jiboiar um bocado por ali no chão ou assim, irreconhecíveis com tanta terra em cima, podres de cansaço, ah ganda concerto e tal, mas muito contentinhos também. Suspiros e mais gemidos de dor, todos juntos. Aaaai... Regressar a Lisboa não sei a que horas, não sei se no domingo ou segunda, logo se vê. Oh it's such a perfect day, I'm glad I spent it with you... (Lou Reed).

2 comentários:

Artur disse...

Que antevisão deliciosa... e agora a pergunta que se impõe: e como foi? Confirmou-se?

roserouge disse...

Confirmou-se tudo até chegarmos à estrada e apanhar aquela fila surrealista. Largámos o carro em Alfarim e fomos o resto do caminho a pé. Cinco quilómetros. Não cheguei a tempo de ver os Spoon, perdi três músicas dos National, mas o resto do concerto foi muito bom. Prince também esteve muito bem. Os Empire of the Sun foram uma treta, demorámos mais não sei quanto tempo para sair do parque de estacionamento - vim com outros amigos de volta para Lisboa, os outros ficaram lá para o dia a seguir - mas a mim não me apanham lá mais naquele local. Uma merda, um caos, uma vergonha. Pessoas houve que nem sequer conseguiram lá chegar. Deves ter ouvido falar.