segunda-feira, julho 12, 2010

O Ovo

A minha filha chegou há pouco a casa e disse:
- Mãe, estou cheia de fome! O que é o jantar?
- Ainda não sei, talvez uns bifinhos de peru grelhados com uma saladinha... Apetece-te?
- Nem por isso, o que me apetecia mesmo era arroz branco empapado em manteiga com ovinhos mexidos. Ó mãezinha querida, vá lá...
E como mãe é mãe e filhos é aquela gente que sai cá de dentro... sai uma dose de ovo mexido com arroz branco para a mesa do canto!!!... Ainda por cima é fácil e barato...


Ovo. Agora essa. Descobriram que ovo, afinal, não faz mal. Durante anos, nos aterrorizaram. Ovos eram bombas de colesterol. Não eram apenas desaconselháveis, eram mortais. Você podia calcular em dias o tempo de vida perdido cada vez que comia uma gema. Cardíacos deviam desviar o olhar se um ovo fosse servido num prato vizinho: ver ovo fazia mal. E agora estão dizendo que foi tudo um engano, o ovo é inofensivo. O ovo é incapaz de matar uma mosca. A próxima notícia será que bacon lima as artérias. Sei não, mas me devem algum tipo de indenização. Não se renuncia a pouca coisa quando se renuncia ao ovo frito. Dizem que a única coisa melhor do que ovo frito é sexo. A comparação é difícil. Não existe nada no sexo comparável a uma gema deixada intacta em cima do arroz depois que a clara foi comida, esperando o momento de prazer supremo quando o garfo romperá, sim, se desmanchará, e o líquido quente e viscoso correrá e se espalhará pelo arroz como as gazelas douradas entre os lírios de Gileade nos cantares de Salomão, sim, e você levará o arroz à boca e o saboreará até o último grão molhado, sim, e depois ainda limpará o prato com pão. Ou existe e eu é que tenho andado na turma errada. O fato é que quero ser ressarcido de todos os ovos fritos que não comi nestes anos de medo inútil. E os ovos mexidos, e os ovos quentes, e as omeletes babadas, e os toucinhos do céu, e, meu Deus, os fios de ovos. Os fios de ovos que não comi para não morrer dariam várias voltas no globo. Quem os trará de volta? E pensar que cheguei a experimentar ovo artificial, uma pálida paródia de ovo que, esta sim, deve ter me roubado algumas horas de vida a cada garfada infeliz. Ovo frito na manteiga! O rendado marrom das bordas tostadas da clara, o amarelo provençal da gema… Eu sei, eu sei. Manteiga ainda não foi liberada. Mas é só uma questão de tempo.

Luís Fernando Veríssimo

9 comentários:

El Matador disse...

Com esta lembraste-me que há anos que não como um ovo.

roserouge disse...

Fazes mal, Eli. Ovo tem muita proteína. Adoro tudo o que tenha ovos.

João Menéres disse...

Ovos mexidos... Coisa boa!!!
Ovo estrelado com a gema a espraiar-se no arroz de manteiga!
Ui coisa mais maravilhosa é capaz de não haver!...
LFV fala em sexo.
Não sei...não me lembro!
De quê?
Dos ovo estrelado? de sexo?
Mas eu estava a falar de quê?
Desculpa...já me esqueci !

Um beijo.

roserouge disse...

Ehehehehe...

Anónimo disse...

Como a maior parte das pessoas adoro ovos. Quando era adolescente tive um amigo que se converteu ao budismo e tornou-se macrobiótico; dizia com nojo ao ver-nos comer ovos que aquilo era "menstruação de galinha". A partir daí ainda fiquei a gostar mais.
Ortega

roserouge disse...

Ortega, essa nunca tinha ouvido, que disparate, rsrsr!!!
Carne vermelha, já como muito pouco, mas há coisas de origem animal das quais não consigo prescindir: queijo, manteiga e ovos. E uns ovinhos mexidos com farinheira?! Ai, eu...

Jorge Pinheiro disse...

Ortega, não invoques o "tio Rui" em vão!

roserouge disse...

Qual "tio Rui", quem é esse? Quem, quem, quem??? Contem-me, please!

Júlia disse...

você me ajudou bastante.
estava fazendo um trabalho pra escola e minha professora pediu que eu desenhasse um ovo e suas caracteristicas.