segunda-feira, maio 10, 2010

Close Your Eyes

(...) E esfregava o peito e a barriga; o suor caía-lhe do rosto. Bum, crash! O baterista enterrava as caixas no chão e fazia voar o ritmo com as suas batutas assassinas, ratlei-bum! (...) O pianista limitava-se a bater as teclas com os dedos abertos em leque, acordes a intervalos, enquanto o grande saxo-tenor arranjava sopro para outra intervenção - acordes chineses, que faziam o piano estremecer em todos os seus madeiramentos, chink, boing! O saxo-tenor saltou da plataforma para baixo e ficou entre a multidão, sempre a soprar; tinha o chapéu caído para os olhos; alguém lho puxou para trás. Ele pulou de costas para o estrado, novamente, e soprou uma nota rouca, áspera, tomou fôlego, levantou o instrumento e soprou uma nota estridente que se perdeu no ar. Dean estava directamente diante dele, com a cara inclinada para a campânula, a bater palmas, pingando suor nas chaves do saxo, e o homem notou-o e deu com o instrumento uma louca gargalhada alquebrada; toda a gente riu e se balançou. Finalmente o saxo-tenor decidiu estourar com tudo: dobrou-se todo e aguentou um dó durante imenso tempo, enquanto tudo enlouquecia em seu redor, os gritos aumentavam e eu esperava ver a força de polícia da esquadra mais próxima entrar pela porta dentro. Dean estava em transe. Os olhos do músico estavam postos nele; tinha ali um louco que não somente compreendia, mas também se interessava e queria compreender mais, e muito mais do que havia e começaram um duelo sobre isto. Tudo saía do instrumento; já não eram frases, mas simples gritos, gritos Boohh! e para baixo até Biihi! e para cima até Iiii! e para baixo novamente, em sons que ecoavam lateralmente. Tentou tudo: para cima, para baixo, para os lados, de cima para baixo, horizontal, trinta graus, quarenta graus e finalmente caíu de costas nos braços de alguém e desistiu e toda a gente se acotovelou e gritou: "Sim! Sim! O tipo chegou lá!" Dean enxaguou-se com o lenço. Depois o saxo-tenor subiu novamente à plataforma e pediu um ritmo lento, olhou tristemente para a porta e começou a cantar "Close your eyes". As coisas acalmaram por um momento. (...)
Excerto de "Pela Estrada Fora" - Jack Kerouac


12 comentários:

El Matador disse...

Grande livro este; agora parece que o vão estragar e fazer um filme.

roserouge disse...

Não sejas mauzinho. É do Francis Ford Coppola e tem o Brad Pitt e Billy Cudrup. Já foi feita uma versão um bocado ensonsa com o Nick Nolte, John Heard e Sissy Spacek há coisa duns 30 anos atrás ou coisa assim. Muito ensonsa mesmo. A ver se a coisa agora pega fogo.

Abrenuncio disse...

Já li que é aquela mocinha com cara de enjoada do Twilight que vai fazer de mulher do Dean Moriarty, por isso, não sei não.

roserouge disse...

Qual? A Kristen Stewart? Ai, Abrenúncio, que me dá um fanico!

Abrenuncio disse...

Essa mesma, e o realizador é o Walter Salles.

roserouge disse...

A produção independente, com um orçamento de 19,6 milhões de dólares, ficará a cargo de Francis Ford Coppola, que adquiriu há trinta anos os direitos de adaptação do texto do escrito norte-americano.

A rodagem começa em Agosto e contará no elenco com Kristen Stewart, da saga Twilight, Sam Riley, que interpretou Ian Curtis, dos Joy Division, no filme Control, e Garrett Hedlund.

Fonte: Diário Digital

Olha, afinal não é o Pitt nem o Cudrup, não sei onde é que fui buscar esta informação... devia ser do adiantado da hora...

Jorge Pinheiro disse...

Bons tempos. Isto hoje era impossível.

roserouge disse...

Outros tempos, sim. Tanta coisa por descobrir. Hoje em dia, basta carregar num botão.

Anónimo disse...

Eu até gostei desse filme com o Nick Nolte e a Sissy Spacek e acho que nem há termo de comparação com o livro.É apenas um filme bem feito sobre um triângulo amoroso sui generis.Gostei do final quando ela diz a propósito da relação afectiva que tinha tido com os dois, qualquer coisa como: se decides marimbar e nunca ir ao dentista estás f... se começas a ir, nunca mais paras e também estás f....

Ortega

roserouge disse...

Mas eu também gostei do filme, ó Ortega! E às vezes passa na tv. Por acaso, não me lembro dessa frase, mas é boa, eheheh! Já agora, lembras-te do nome do filme?

Anónimo disse...

Acho que o título original é "heart beat".
Ortega

roserouge disse...

Ah pois é! Em português acho que é"Um bater de corações". Acho que é isso.