segunda-feira, agosto 03, 2009

Luís Vaz de Camões

De Luís de Camões sabemos pouco, é certo, mas sabemos o suficiente para se não poder fazer dele outro modelo que não seja de singularidade. Pois em que padrão poderia transformar-se um homem que não estudou leis, não teve modo de vida conhecido, não levou nenhuma dama à igreja, não contribuiu para o aumento da população, não pertenceu a qualquer confraria, e cuja vida é capaz de ter sido mesmo das mais desgraçadas que jamais a qualquer português letrado coube em sorte? Camões, se modelo é, convenhamos que é apenas modelo de poesia e de liberdade — e isso basta.

Eugénio de Andrade, “Quem celebra quem” in Camões, nº1, Agosto de 1980, Ed. Caminho
(Comemorações do 4º Centenário da Morte de Camões)

Era uma vez um português de Portugal.
O nome Luís há-de bastar toda a nação ouviu falar.
Estala a guerra e Portugal chama Luís para embarcar.
Na guerra andou a guerrear e perde um olho por Portugal.
Livre da morte pôs-se a contar o que sabia de Portugal.
Dias e dias grande pensar juntou Luís a recordar.
Ficou um livro ao terminar, muito importante para estudar:
Ia num barco ia no mar e a tormenta vá d'estalar.
Mais do que a vida há-de guardar o barco a pique Luís a nadar.
Fora da água um braço no ar na mão o livro há-de salvar.
Nada que nada sempre a nadar livro perdido no alto mar.
– Mar ignorante que queres roubar? A minha vida ou este cantar?
A vida é minha ta posso dar mas este livro há-de ficar.
Estas palavras hão-de durar por minha vida quero jurar.
Tira-me as forças podes matar a minha alma sabe voar.
Sou português de Portugal depois de morto não vou mudar.
Sou português de Portugal acaba a vida e sigo igual.
Meu corpo é Terra de Portugal e morto é ilha no alto mar.
Há portugueses a navegar por sobre as ondas me hão-de achar.
A vida morta aqui a boiar mas não o livro se há-de molhar.
Estas palavras vão alegrar a minha gente de um só pensar.
À nossa terra irão parar lá toda a gente há-de gostar.
Só uma coisa vão olvidar o seu autor aqui a nadar.
É fado nosso é nacional não há portugueses há Portugal.
Saudades tenho mil e sem par saudade é vida sem se lograr.
A minha vida vai acabar mas estes versos hão-de gravar.
O livro é este é este o canto assim se pensa em Portugal.
Depois de pronto faltava dar a minha vida para o salvar.

José de Almada Negreiros

Numa prova de entrada para a Universidade...
Questão : Interpretar o seguinte trecho de poema de Camões: 'Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, dor que desatina sem doer'. Uma aluna deu a sua interpretação: 'Ah Camões, se vivesses hoje em dia, tomarias uns antipiréticos, uns quantos analgésicos e Prozac para a depressão. Comprarias um computador, consultarias a Internet e descobririas que essas dores que sentias, esses calores que te abrasavam, essas mudanças de humor repentinas, esses desatinos sem nexo, não eram feridas de amor, mas somente falta de sexo!' Teve nota máxima. Foi a primeira vez, depois de mais de 500 anos, que alguém entendeu qual era a ideia de Camões...

5 comentários:

Jorge Pinheiro disse...

Viva Camões!

roserouge disse...

Podes crer!

o Hunter disse...

Onde vaz Luís? Dizia-lhe a mãe.
Olha, foi até à eternidade...

roserouge disse...

Onde vaz? A mãe do Camões era algarvia?

angela disse...

Poesia muito linda. A homenagem manteve o espírito de Camões.
abraços