
Mónica tem 17 anos e trabalha numa pequena cidade. Harry tem 19 anos e trabalha na mesma cidade. Um dia conhecem-se e apaixonam-se, ou pensam que se apaixonam, e partem juntos. Mónica discutiu com o pai e saiu de casa. Harry discutiu com o patrão e saiu do emprego. Nada os prende à cidade, ou pensam que nada os prende à cidade e a fuga parece o único gesto lógico. Um barco basta para se isolarem durante semanas numa ilha. Esse Verão na ilha, os dias e as noites e os beijos e a nudez dos corpos e todo o desejo são o sonho. Sabe-se que alguns sonhos terminam e em Mónica sabe-se que o olhar apaixonado e rebelde foi mudando. Esta história é a história do olhar de Mónica. Do desejo de Mónica. De como nos seus olhos permaneceu a inquietude enquanto se alteravam as ilusões. Mas o título mente e no olhar de Mónica, não se enganem, houve mais do que um desejo.

Nesta história, como em todas, não existem amores intactos. Alguns, contudo, estilhaçam-se mais do que outros. Começou tudo pela felicidade daquele Verão. Depois vêm as dúvidas. As de Mónica e as nossas. No filme, as imagens e as palavras fazem-nos muitas perguntas mas não nos dão qualquer resposta e não se poderia nunca esperar mais do que isso de Ingmar Bergman. O filme que tanto impressionou os protagonistas da Nouvelle Vague é tão transparente como vago. A maioria das perguntas, sem surpresa, estão no olhar de Mónica. No desejo de Mónica.
Mónica e o Desejo foi filmado na ilha de Ornö, Suécia, durante o Verão de 1952. Mostra este casal de adolescentes que vive toda a intensidade do desejo e do sexo. A chegada de um filho marca a passagem à idade adulta. Os compromissos que o filho e a família acarretam encerra uma fase. Nada será como naquele arquipélago em que Mónica se dá ao amante. Desfrutando do seu amor durante uma estação, regressam ao continente onde os esperam o princípio da realidade e o fardo do quotidiano: tendo sido mãe, Mónica foge de um lar demasiado medíocre para ela e de um marido que ela despreza por isso mesmo, deixando-lhe o filho deles. Bergman dizia que era um dos seus filmes mais simples (o mais?). Ele simplesmente foi para a local com os actores. Tinha uma idéia na cabeça, algumas páginas de roteiro.
Mónica e o Desejo foi feito com liberdade, como o próprio sexo e o desejo da dupla de protagonistas.
Mónica e o Desejo é imperdível, nem que seja para ver esses minutos extraordinários em que Harriet Andersson, antes de ir para a cama com um tipo que tinha deixado, olha fixamente para a câmara, com os olhos risonhos embaciados pela confusão, elegendo o espectador como testemunha do desprezo que ela sente por si própria ao escolher involuntariamente o inferno em vez do céu. É um dos planos mais tristes da história do cinema. -
(Jean-Luc Godard)
"Mónica, quero o meu Verão de volta.
Para onde foi o desejo, para onde fui eu?" -
(Harry) 

“Apenas Bergman sabe filmar os homens tal como os amam e detestam as mulheres e as mulheres tal como as amam e as detestam os homens”.
Jean-Luc Godard – “Bergmanorama”, Cahiers du Cinéma – Julho 1958.