
- Ó Bééééééé, anda cá depressa ver isto!
- Ó pai, que foi, tou a brincar!
- Brincas depois, isto é extraordinário, vem ver!
- Brincas depois, isto é extraordinário, vem ver!
Lá em casa, assistíamos sempre ao lançamento das Apolos para o espaço, era emocionante ver o foguetão direitinho por ali acima e a perder partes à medida que ia subindo. Também só havia dois canais de televisão e a RTP transmitia sempre estes eventos em directo do Centro Espacial Kennedy, em Cabo Canaveral, Florida. E lá fui ver o que era, ainda com as penas na cabeça. Chamei os outros miúdos e ficámos ali todos sentados no chão, de boca aberta, alucinados, a olhar para a televisão, ainda a preto e branco, e a ver uns os americanos a passear na Lua. Fartámo-nos de fazer perguntas e o meu pai, cheio de paciência, lá ia explicando que a coisa estava a acontecer naquele preciso momento. E ensinou-nos o nome dos homens e tudo. E que era um momento único na história da Humanidade. E vi Neil Armstrong dar o primeiro passo, depois desceu Buzz Aldrin e espetaram a bandeira. Here men from the planet Earth first set foot upon the moon. We came in peace for all mankind. Quando aquilo acabou, saímos outra vez prá rua, mas a brincadeira já tinha perdido a energia toda. Pareceu-nos uma coisa completamente idiota. Arrumámos as penas e as espingardas e ficámos sentados nos degraus da casa a olhar para a Lua a tentar perceber o que tinha acabado de acontecer. E a tentar ver se conseguíamos distinguir alguma coisa lá em cima. Naquela noite, todos queríamos ser astronautas quando fôssemos grandes.
