
Estas fotos foram tiradas em duas ocasiões diferentes, por volta de 2005 e 2006. O pequeno veleiro pertence a este rapaz da camisola das riscas e passámos a bordo tempos maravilhosos de puro divertimento. Toda a gente fazia leme, toda a gente puxava cabos, toda a gente controlava as bóias... bem, uns mais do que outros. Umas vezes íamos à vela, outras a motor - quando não havia vento. Saíamos da doca em Belém, atravessávamos o Mar da Palha em direcção à Baía do Seixal e fundeávamos por lá. Toda a gente levava comida e bebida e o tempo era todo nosso. Havia sempre pão, presunto, carne assada, camarão cozido, queijo, croquetes, rissóis, pastéis de massa tenra, saladas disto e daquilo, bolos, bolinhos e outras iguarias, muito vinho tinto, muita cerveja geladinha e até se fez uma vez caldeirada a bordo. Às vezes havia champanhe, porque queríamos celebrar condignamente a vida e a amizade. Podia ficar aqui o resto da semana a contar as mil e uma peripécias que nos aconteceram, desde ficar encalhados na baía do Seixal, à noite, porque a maré desceu e nos atrasámos, um que caíu ao rio com óculos escuros e tudo e que quando reapareceu à tona de água continuava de óculos escuros... Ainda hoje nos rimos disto. Uma vez fizémos uma razia ao sumptuoso iate do Abramovich, o "Pelouros" que estava atracado no Cais da Pedra, ao pé do Lux. Só para ver de perto, claro. Não se via vivalma a bordo, mas nós tínhamos a certeza que estávamos a ser observados. Assim que nos afastámos, apareceram no convés uns quantos seguranças com um ar entre o ameaçador e o aliviado como quem diz : "vejam lá mas é se vão brincar com o vosso barquinho para bem longe daqui, tá?" Adeus, ó bolchevique! Uma vez tentámos ir até Sesimbra para ver os golfinhos, só que à saída da barra de Cascais (ou seja, mar a sério!) começou tudo a vomitar - a noite anterior, a bordo, tinha sido brava e estava tudo com a maior ressaca - e tivémos que voltar para trás... marinheiros de água doce! Uma vez apeteceu-nos passar entre o cais e um navio de cruzeiro que estava em plena manobra de desatracação e parou tudo por nossa causa! Os passageiros nem queriam acreditar, viam-se expressões de espanto e pânico! E nós ríamos e dizíamos adeuzinho boa viagem! O comandante deve ter ficado pior que estragado connosco, interrompemos-lhe a manobra! Bom mesmo é navegar à bolina, de noite a tocar na água, com o barquinho todo inclinado para um lado (como nos filmes, portanto) e ver as luzes de Lisboa a partir do meio do rio, é um espectáculo inesquecível. Por diversos motivos acerca dos quais não vou falar - seria entrar na intimidade de alguns amigos e não o vou fazer - estes tempos dificilmente se irão repetir. Ficam-nos as histórias cheias de boas recordaçãoes. Oh Captain, my Captain...