sábado, junho 19, 2010

Memórias Encontradas Numa Banheira


Isto é absolutamente genial! Passei ali no excelente 100 Cabeças aqui mesmo ao lado e não resisti a copiar este pequeno vídeo. E, oh pasme-se, logo me lembrei de qualquer coisa que tinha lido há já alguns anos atrás...


"As Crónicas do Homem do Neogeno constituem um dos mais preciosos monumentos de uma idade imemorial da Terra. Remontam à fase decadente da civilização pré-caótica que precedeu a Grande Desintegração. Por um irónico paradoxo da história conhecemos muito melhor as civilizações do neogeno inferior e as culturas antigas da Assíria, do Egipto e da Grécia do que a época da pré-atomística e da astrogação primitiva. Essas civilizações arcaicas deixaram, de facto, obras escritas em osso, pedra, ardósia e bronze, enquanto no decurso do neogeno médio e superior o conjunto de conhecimentos foi conservado por meio daquilo a que se chamava o papir.


Essa substância mole e esbranquiçada que deriva da célula era laminada e cortada em folhas rectangulares. Nela se imprimia a tinta preta toda a espécie de informações, depois as folhas eram dobradas e ligadas entre si por um processo especial. (...) Não sabemos exactamente quando e onde eclodiu a epidemia de papirólise. Esse acontecimento deu-se provavelmente nas zonas desérticas do Sul do antigo Estado de Amer-Qua, onde se contruíram as primeiras bases cósmicas. (...) Desconhecemos os pormenores do cataclismo. De acordo com comunicações orais, cristalizadas só no quarto galácio, os grandes focos da epidemia foram os grandes reservatórios de papir onde estavam registados os conhecimentos. Chamavam-lhes bao-bliotecas. A reacção foi quase instantânea. No lugar das inestimáveis riquezas da memória colectiva, subsistiram apenas montanhas de poeira cinzenta, fina como cinza." (...)


Memórias Encontradas Numa Banheira - Stanislaw Lem, 1961
Caminho - Ficção Científica

7 comentários:

João Menéres disse...

Vê se te não esqueces do DESAFIO, Bé...

O prazo de recepção das sugestões, termina amanhã.
Depois, precisoque o Júri seja rápido.
Sábado, bato as asas...

Beijinhos.

Silvares disse...

Stanislaw Lem... por acaso tenho esse livro. E outros do mesmo autor. Ainda hoje consulto de vez em quando As Viagens de Ijon Tichy. Tem contos bestiais!

roserouge disse...

João,
já votei, já te mandei o mail.

Silvares,
fiquei com vontade de ler este livro outra vez. Há coisa duns 20 anos atrás, os meus amigos e eu fomos atacados por uma febre de ficção científica e despachávamos tudo o que era Stanislaw Lem, Isaac Assimov, Philip K. Dick, Robert Heinlein, Kurt Vonnegut e outros do género. Ainda ali estão guardadinhos na estante. A colecção azul da Caminho. Magníficos! Muito à frente, aqueles tipos.

Silvares disse...

Também os papei a eito! Quando andava no liceu bem que me metiam o Camões à frente mas o meu herói era o Phillip Dick naquelas edições da Colecção Argonauta. Hoje sou incapaz de ler os livros porque a tradução é intragável. Os da Caminho, nesse aspecto, são melhores. Muito melhores. Ray Bradbury, upa, upa!

roserouge disse...

Ray Bradbury, pois era! Ainda me lembro de ler as "Crónicas Marcianas" esticada ao sol do Meco! Ainda hoje lá estive toda a tarde e lembrei-me disso tudo! Engraçado, como a nossa memória funciona.

Anónimo disse...

Também tive esse ataque de ficção científica e devorei tudo isso de que falaram. O Stanislaw Lem era dos meus favoritos. As "Memórias..." é fantástico assim como o "Solaris" e o "Stalker".
Ortega

roserouge disse...

Bem sei, Ortega. Logo a seguir veio a febre de Tolkien e d' "O Senhor dos Anéis" muuuuuuuuiiiito antes dos filmes do Peter Jackson.