Retrato do Artista Enquanto Jovem - 77ª parte

Ela era 16 anos mais velha que eu e tinha fama de gostar de rapazes. Tennessee avisou-me que ela tinha dito que estava apaixonada por mim; antes de voltarmos a Nova York para rodar o filme, ela confirmou aquilo. Nós encontrámo-nos várias vezes na Califórnia e ela procurava sempre ficar sózinha comigo, até que um dia conseguiu, no hotel Beverly Hills. Apesar de não a encorajar, ela começou a beijar-me apaixonadamente. Eu procurei corresponder porque sabia que ela se preocupava com a idéia de envelhecer e perder a beleza; por isso, mais por delicadeza, achei que devia beijá-la. Rejeitá-la teria sido um insulto terrível. Só que em determinado momento ela me abraçou e não queria mais soltar-me. Quando eu tentava me desenvencilhar ela apertava-me ainda mais e mordia-me os lábios, o que doía muito. Com os dentes dela no meu lábio inferior e nós dois entrelaçados, eu me lembrei de um daqueles rituais mortais de acasalamento entre dois insetos, no fim do qual a fêmea confere o golpe de misericórdia. Ficámos ali balançando para a frente e para trás, com ela sempre a tentar levar-me para a cama. Eu estava de olhos bem abertos e quando a olhei nos olhos percebi que ela estava em transe - uma espécie de Átila, o Huno em pleno ataque. Por fim a dor ficou tão intensa que, para poder afastá-la, agarrei no seu nariz e apertei-o com toda a força, como se estivesse a espremer um limão. Aquilo deixou-a espantada e eu consegui escapar". Quem é, quem é?

(Excerto da biografia do pequeno lá de cima, que é a vítima de hoje)